terça-feira, maio 24, 2011

Quiosques

Ainda que os quiosques por que Lisboa tem sido notícia nos últimos tempos nada tenham que ver com os espaços abertos de finais do século XIX, inspirados nos pavilhões que os persas e os turcos haviam criado muitos séculos antes para os seus jardins, e que, rapidamente, se tornariam em coretos por essa Europa afora; a verdade é que são um belo de um achado para as nossas cidades, ainda que no que diz respeito à venda de jornais e afins a coisa continue a ser muito básica, para não dizer mais. E nem quero falar dos celebérrimos cubos metálicos com que certo ex-edil resolveu presentear, a contra-gosto, as paróquias da cidade, e que deviam ser todos enviados para o ferro-velho.

Falo, isso sim, dos quiosques verdinhos em folha que, um pouco por todo o lado, vão sendo colocados pela cidade, abrindo na sua maioria como cafetarias com serviço de esplanada e fruição do espaço público e das vistas desta bela cidade, tão bela quanto subaproveitada e mal tratada. Tardaram mas apareceram.

Depois de algumas peripécias de ordem administrativa e de concurso mal explicadas, e algumas localizações um pouco estapafúrdias, a verdade é que o saldo até agora tem sido bastante positivo: quase todos os recantos, largos e praças de Lisboa, jardins e miradouros, mais ou menos acolhedores e mais ou menos ventosos, dispõem hoje de um quiosque com esplanada, na sua grande maioria – e falo dos que vejo e usufruo – de qualidade e a anos-luz do que era (triste) hábito na cidade.

É com muita satisfação, pois, que revejo o antigo quiosque da UNICEF, no Príncipe Real, bem restaurado e ao serviço do público, bem como os dois patamares de São Pedro de Alcântara com o respectivo quiosque, ainda que o conceito “rave” de um deles espero tenha sido proibido. Tal qual espero que os dois belíssimos quiosques do Cais do Sodré tenham em breve boa sorte e o mesmo empenho por parte da CML, são demasiado bonitos para os perdermos de vista…

E é também com muito entusiasmo, claro, que assisto à colocação de novos e bonitos quiosques na Avenida da Liberdade. É a avenida mais bonita de Lisboa e talvez do país, não faz sentido que não tenha quiosques e muito menos que continuasse com os que tinha até há poucos anos. Muito menos que mantenha ainda uma aberração, digna do Terceiro Mundo, defronte ao Xenon (também ele um elemento espúrio da Avenida).

Mas esplanadas para respirar o ar que sai dos tubos de escape dos carros que circulam na avenida mais poluída da Europa, isso não, obrigado. Para quando uma intervenção a sério e de fundo, condicionando seriamente o trânsito do Marquês à Baixa? Já está tudo no papel, que diabo. Façam dessa intervenção um projecto estruturante para o próximo decénio e, antes que seja tarde de mais, avancem, S.F.F.



In Jornal de Notícias (19.5.2011)

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu não parava nem em quiosque nem em esplanada na Av. da Liberdade nem que o consumo fosse gratuito.