quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Peças

A China teme o contágio pela internet e limita-lhe o acesso; há mais de um milhão de pessoas nas ruas do Cairo e milhares nas ruas da Tunísia; ainda na internet apela-se à revolução na Síria e caiu o Governo da Jordânia. A Europa e os Estados Unidos estão economicamente debilitados. A par de outras situações noutras latitudes, tudo somado, significa que o Mundo já mudou. O ponto é que sabemos que mudou, mas não podemos saber em que direcção o Mundo mudou e não é "só" porque o barril de petróleo está a 101 dólares, com as repercussões óbvias.

A questão é mais séria: o redesenho político no Egipto, na Tunísia, na Jordânia ou na Síria ditará o futuro dos respectivos povos – que se deseja uma evolução democrática, mas pode bem culminar no reforço de fundamentalismos – e também ditará a sorte do chamado "Mundo Ocidental", que não está nas melhores condições para resistir a mais cenários negativos, o que pode acelerar o empobrecimento e/ou potenciar conflitos de consequências inimagináveis.

Mas para o Governo não se passa nada; não vive nem no mesmo Mundo nem no País real que é suposto governar.

Num contexto tão sério, como suportar a caracterização que o Governo continua a fazer do País, relativizando tudo: da dívida aos dados do desemprego, que são "apenas" "um pouco superiores à média europeia...", a "situação está estável"; ou criticando as oposições por pretenderem "transformar aquilo que aconteceu no dia das eleições presidenciais, sobretudo os problemas técnicos que ocorreram, num problema político"; às receitas informatizadas; à entrega obrigatória de declarações de impostos via internet (sem nenhuma consideração pelos médicos que, por exemplo, têm de se deslocar ao domicílio, ou por cidadãos que não dispõem de computadores)? Seria muito interessante saber o custo/ /benefício deste totalitarismo informático. Mas é também o desprezo pelo cidadão comum que choca. Do alto dos seus muitos gabinetes, desligado da realidade, o Governo não tem nenhuma consideração pelos seus cidadãos e está mesmo profundamente convicto de que é "moderno" e, claro, problemas em actos eleitorais – base da democracia – ou a existência de cidadãos que não têm acesso à informática ou são infoexcluídos são "questões técnicas". Somos todos meras peças. Se assim é, o melhor é encarar este Governo também como uma "questão técnica" para, tal como as peças que avariam definitivamente, ter o destino certo.




In Correio da Manhã

2 comentários:

Anónimo disse...

Agora até a Caixa Geral de Aposentações passará apenas a emitir declarações para o IRS via Internet.

Tratando-se de pessoas APOSENTADAS, muitas delas nunca tendo trabalhado com computadores, idosas, doentes, é de uma violência absolutamente despropositada e idiota.

Eis a prova disse...

Os pensionistas da Caixa Geral de Aposentações receberão em 2011, pela última vez, a declaração das pensões e deduções processadas pela Caixa Geral de Aposentações no ano civil anterior em suporte de papel.


A partir do próximo ano, aquela declaração será fornecida apenas em formato electrónico, a partir dos serviços online da Caixa, pelo que todos aqueles que pretendam ter acesso a ela deverão registar-se, com a devida antecedência, na CGA Directa (https://cgadirecta.cga.pt), através da funcionalidade Registo / Pessoa Singular.