quinta-feira, novembro 18, 2010

2010 - Ordem para reciclar

Abençoada transposição a da norma comunitária que permitiu à Câmara Municipal de Lisboa impor até final do ano a muitos lisboetas o sistema de recolha do lixo porta a porta nos bairros de Alvalade e Areeiro, entre outros já entretanto intervencionados, como Telheiras, Nossa Senhora de Fátima, envolventes aos estádios da Luz e Alvalade, Quinta do Lambert e Paço do Lumiar; bairros onde a partir de agora passa a haver uma recolha selectiva de papel e embalagens, a recolher, respectivamente, em novos caixotes do lixo com tampa azul e amarela, às Quintas-Feiras ou às Terças-feiras e Sábado, idem. Quanto ao restante lixo, o chamado “indiferenciado”, será recolhido às 2ª, 4ª e 6ª. Paralelamente, serão retirados da via pública os dois paquidérmicos contentores correspondentes, a que alguém chamou ecopontos, ficando apenas os “vidrões”, até que haja um dia alguém que os enterre para sempre.

No cômputo geral, trata-se, portanto e como haveria de dizer certo astronauta da missão Apolo 11, de um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade. Ou seja, vamos no bom sentido. E neste particular a CML está de parabéns. Contudo, nestas coisas há sempre um “mas”. Como anuncia a própria CML: “o sucesso da implementação do sistema de recolha selectiva porta a porta pressupõe um grande envolvimento dos munícipes”. Ou seja: estamos dependentes dos vizinhos do lado.

E, no que me toca em particular, estou curiosíssimo em ver até que ponto o porco de um dos prédios ao lado está disposto a contemporizar com a União Europeia e a sua mania em querer ensinar-lhe boas maneiras, fazê-lo respirar ar mais puro, impedi-lo de conviver com o lixo tempo demasiado, desanuviar-lhe as vistas, enfim, dar-lhe um pouco mais de qualidade de vida. E quem diz um porco diz uma vara deles.

Estou curioso em verificar se aqueles viciados em lixo vão deixar de esperar por que a camioneta do lixo passe ao final de noite para, pé ante pé, depositarem os presentes que, sob a forma de saquinhos de plástico com logo de supermercado e lixo “indiscriminado”, ou não, costumam depositar anónima e sub-repticiamente na caldeira da árvore mais próxima de si, ou na porta dos seus vizinhos mais asseados, ainda por cima, sacos rasgados depois por fiéis amigos de outrem. Tenho quase a certeza que eles pertencerão àquela franja do eleitorado (como gostam de referir os politólogos) de 9% a 27% que, segundo os dados publicados no sítio da CML, não praticam a separação dos resíduos nos bairros onde já foi implementado este sistema de recolha do lixo. Aposto!



NB: Faz oito dias, a crónica “Cada cavadela, sua minhoca” foi escrita antes de ser conhecida a revisão final do PDM aprovada na véspera em sessão de CML. Felizmente, e até ver, claro.




In Jornal de Notícias (18.11.2010)

1 comentário:

Julio Amorim disse...

Fiasco garantido!
O que Lisboa necessita urgentemente é uma reciclagem humana. Porque enquanto este pessoal do saquinho encostado a algo não desaparecer....