quinta-feira, setembro 23, 2010

Ameaças

Este Outono não promete nada de bom. Em particular, os economistas e analistas económicos são unânimes no tremendo cenário que desenham para Portugal, nos próximos anos.

As gerações que nos seguem vão ser as grandes prejudicadas com a situação a que chegámos. Será porventura a primeira vez, de há muito, que uma geração legará à seguinte uma brutal hipoteca geracional.

O despesismo, a impreparação, a partidarização, a falta de ética conduziram-nos onde estamos. Não é mesmo tempo para continuar a virar as costas à realidade; não é tempo para contemporizar com o irrealismo dos que apenas pretendem manter o poder seja ele de que natureza for. Portugal está cheio de pequenos e grandes poderes que apenas servem para delapidar o País. O fenómeno não é de hoje, a sua dimensão é que nunca foi tão monstruosa e imoral.

À nossa volta, por toda a Europa, perpassa um movimento em que o racismo, a xenofobia, a intolerância para com a diferença crescem (14 países europeus têm já movimentos e/ou partidos que o assumem claramente), com inegável expressão eleitoral. Sabemos que as crises agravam estes fenómenos e há que ter coragem para lhes dar combate, por muito impopular que a atitude se venha a revelar. Mas nos princípios não pode haver transigência. Também esses princípios podem vir a ser testados entre nós. Teremos de recuperar a grandeza dos que estão prontos a sacrifícios em nome de um futuro melhor, mas também há que recuperar a verdade e o exemplo de quem nos governa.

Teremos de recuperar a cultura da exigência e da solidariedade. Em suma, teremos de recuperar Valores, pois sem eles nenhuma sociedade se reestrutura, seja qual for o sector em causa. É isso, valores, a base de toda a actividade humana justa.

Ponhamos de parte o nosso tradicional individualismo e exerçamos o nosso direito de cidadania que é mais necessário do que nunca. Com as ameaças que pairam sobre Portugal, temos que começar por exigir a verdade, já no próximo Orçamento de Estado, sob pena de o Governo se transformar no mais imediato carrasco do País. Não vale a pena acusar as oposições de não viabilizarem instrumentos que só servirão para nos precipitar mais depressa no abismo. Mal andaríamos se, sob a ameaça de uma crise, corrêssemos para uma crise maior. Se fizer mal o seu trabalho, só ao Governo pode ser imputada a culpa de o ver reprovado.




In Correio da Manhã

Sem comentários: