quinta-feira, maio 20, 2010

Pesadelo

Os tempos que estamos a viver (e os que vamos viver), aproximam-se muito de um pesadelo, com a diferença de que estamos de olhos abertos: aumento de impostos, urgências em risco, 730 mil desempregados (sendo mais de metade de desempregados de longa duração), só para referir as questões mais relevantes. Ler Krugman, Nobel da Economia, a defender que os salários em Portugal, na Grécia ou na Espanha deviam ser reduzidos entre 20% a 30%, relativamente aos da Alemanha, e que vão ser "anos de sofrimento até se restaurar a competitividade" é aterrador. Há que fazer tudo para sair de onde nos encontramos e para não chegarmos ao que nos profetizam. Cortar na despesa é essencial.

Precisamos urgentemente de restaurar sectores produtivos e não apenas de estancar a actual situação. Para que existam objectivos de crescimento sustentado. Para que os sacrifícios que viermos a suportar não sejam em vão. Não vão ser anos fáceis.

O Governo está a revelar-se manifestamente incapaz de aceitar e compreender a extensão da crise económico-financeira, quanto mais de tomar as rédeas do País em tal situação. As declarações contraditórias de vários responsáveis governamentais só agravam o problema (por revelarem um desnorte evidente), e a maquilhagem posta nas contas públicas também não ajuda a credibilizar o País, para além de ter outras consequências a nível interno e externo.

Mas Sócrates parece viver num outro mundo.

A afirmação recente do Primeiro-Ministro de que não pede desculpas por cumprir o seu dever revela uma de duas coisas: ou a persistência na política de marketing que o tem caracterizado (e o Primeiro-Ministro tem grande capacidade de manipulação política), ou o Primeiro-Ministro não percebe mesmo que, justamente, não está a cumprir o seu dever, nem se responsabiliza pela forma como conduziu o País, podendo os sacrifícios que se anunciam terem sido evitados. Mas não: foram anos de puro despesismo inconsequente.

Alguns olham para as possíveis intervenções do FMI e da União Europeia como soluções – no limite – mas como soluções.

Mas se o FMI e a União Europeia recusarem ajuda a Portugal? Não é um cenário académico, com o recuo da Alemanha na criação dos meios financeiros para manter o euro, a reclamar o direito de veto nos resgates da Zona Euro e o direito de o Parlamento alemão rejeitar a ajuda a um Estado-membro. A isto junta-se o Senado americano a reclamar condições para as ajudas do FMI.





In Correio da Manhã

2 comentários:

aeloy disse...

Tem razão, só que lamentávelmente os sectores produtivos deviam ser aqueles que corresponde a investimentos nos recursos endogenos e criação de segmentos de mercado. Em vez de Quimonda agora estamos a Embraiar, noutra. A Auto-Europa apaga-se num aí e o país afunda-se nesse produção (o TGV e & é tudo importado, até a mão de obra...).
Novos segmentos agro-industriais, novas energias e valorizar o espaço e "clusters" de produção... mas talvez estejamos em alguma sintonia...
António Eloy

Anónimo disse...

Não me parece que se trate de um pesadelo: é a mais crua realidade.