quinta-feira, maio 13, 2010

Mensagem

Não pensei escrever sobre o Papa ou a sua vinda a Portugal. Não me aventuro em domínios de Fé – que de cada um são ou não – excepção feita aos fanatismos que execro, sobretudo porque, entre outras consequências, conduzem ao domínio e condicionamento do outro.

Mas a mensagem de Bento XVI impressionou-me vivamente.

Numa época em que aquilo a que mais assistimos é o descartar de responsabilidades várias e independentemente da questão religiosa, Bento XVI foi um exemplo. As duras palavras que proferiu relativamente à própria Igreja revelam muita coragem, mesmo muita. E a coragem é algo que anda arredado da maioria dos responsáveis.

Ao afirmar que a 'maior perseguição da Igreja' não vem de fora, mas de dentro e que, para enfrentar o pecado dentro da Igreja é preciso penitência, perdão, mas também necessidade de Justiça, porque o perdão não substitui a Justiça, ou que a perseguição à Igreja nasce do pecado da própria Igreja, o Papa Bento XVI resumiu e assumiu todo um tratado de conduta ética e política. E separou claramente o perdão da Justiça humana. Separou as dimensões. Clarinho como água. Mas não se deteve aí. Já referira que a economia tem de ser 'eticamente estruturada' e que não pode esquecer a solidariedade.

Em ‘A Caridade da Verdade’, Bento XVI refere que a ausência de mecanismos de controlo de mercado são a causa de graves desequilíbrios, pois separam o agir económico, ao qual compete produzir riqueza, do agir político, cuja função é a redistribuição.

Tudo o que antecede podia ser um manifesto de actuação aplicável às actividades políticas, económicas e até à conduta de cada um (independentemente e para além, naturalmente, da dimensão religiosa, mas esta, repito, não me cabe abordar).

O Poder mal utilizado lida mal com a Verdade e a Coragem e Bento XVI, para além de todas as diferenças, revelou nas suas palavras e no seu sofrimento (bem espelhado no fácies), uma dimensão de que as sociedades precisam urgentemente.

Uma dimensão de autocrítica, de assunção de erros cometidos, do reconhecimento do papel da Justiça, mas também de esperança. Tudo a que não se assiste entre nós.

Diz e escreve quem sabe, que Bento XVI é um homem solitário entre os seus livros, no seu perfil de melómano e no seu carácter reflexivo e que, de certa forma, é um mal amado nos corredores do Vaticano.

Não admira.




In Correio da Manhã

1 comentário:

Anónimo disse...

A quem é que se refere quando afirma: "Diz e escreve quem sabe"?
Afinal, quem é que a senhora conhece que eu não conheço?
Texto estranho e metediço para quem se afirma "ateia"...