sexta-feira, maio 28, 2010

A tendência da servidão

O Público, cuja prudência na afirmação é correlativa à recusa da metáfora, colocou na primeira página de 23 de Maio, entalada entre Mourinho e a conclusão da série de televisão Perdidos, uma acusação terrível: "As causas que amarram a economia ao marasmo. Um problema que começou com Cavaco e com Guterres." O distinto periódico não só se distraiu no cacófato como acordou um pouco tarde para uma evidência conhecida há duas décadas.

O dr. Cavaco encheu o País de betão inútil. Recebeu oceanos de dinheiro para resolver dificuldades essenciais (repito: essenciais) e deu um tratamento uniforme aos problemas relativos ao desenvolvimento. Confundiu tudo. É um dos maiores embustes políticos de que há memória. O eng.º Guterres fez o percurso de interpretação clássica: o mal está na educação. Era a sua paixão ardorosa e a apoquentação da sua alma repleta de piedosas referências. O Cavaleiro de Oliveira escreveu que vivíamos numa "fermosa estrivaria." Guterres, num "pântano". Fugiu e escancarou as portas à direita mais abstrusa.

Se o nosso presente está ameaçado pela própria contingência da realidade que o envolve, deve-se a estes senhores, e a muitos mais outros, a perda da unidade de sentido que faz funcionar um país, uma nação. Tudo o que foi ministro da Economia e das Finanças tem passado pelas televisões apresentando respostas para a crise que não previram, ou que anteviram e não avisaram, ou que fomentaram por negligência e inépcia. Agora, são todos sábios e enunciam algo de semelhante ao fim da pátria tal como a conhecemos, e ao ocaso da democracia por ausência de cidadania. Enfim, dizem, a nossa tendência é a da servidão.

Fomos os "alunos exemplares" de Bruxelas: aceitámos a destruição do nosso tecido produtivo com a submissão de quem não foi habituado a expor questões e a enumerar perguntas. Pescas, agricultura, tecelagem, metalurgia, pequenas e médias empresas desapareceram na voragem, em nome da "incorporação" europeia. A lista de cúmplices desta barbaridade é enorme. Andam todos por aí. Guterres trata dos famintos do Terceiro Mundo; Barroso, dos "egocratas" de barriga cheia; os economistas que nos afundaram tratam da vidinha, com desenvolta disposição. Nenhum é responsável do crime; e passam ao lado da insatisfação e da decepção permanentes, como cães por vinha vindimada.

Impuseram-nos modos de viver, crenças (a mais sinistra das quais: a da magnitude do "mercado"), um outro estilo de existência, e o conceito da irredutibilidade do "sistema." Tratam-nos como dados estatísticos, porque o carácter relacional do poder estabelece-se entre quem domina e quem é dominado - ou quem não se importa de o ser.




(Diário de Notícias, 26.5.2010)

quinta-feira, maio 27, 2010

Finalmente, uma doce novidade! Vinda do Patriarcado de Lisboa



A partir de amanhã, e até domingo, dia 6 de Junho, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, decorre a 1.ª Mostra de Produtos Conventuais. Bolachas, compotas, licores e também objectos religiosos, ícones, pinturas, esculturas, artesanato e outros estarão à disposição dos interessados em conhecer o que se faz nos mosteiros e conventos portugueses.

Para já, são 14 as ordens e congregações religiosas (mais um seminário e um centro de espiritualidade) participantes nestas Artes do Claustro. A ideia começou por ser pensada só para a área de Lisboa, mas rapidamente foi alargada a todo o país, se bem que ainda a um âmbito reduzido.

"Vamos ver e, se correr bem, será para continuar", diz ao PÚBLICO Sandra Costa Saldanha, directora do Serviço de Património do Patriarcado de Lisboa. O ritmo anual e o alargamento da participação ao maior leque possível de mosteiros e conventos são as duas ideias em perspectiva.

A mostra será inaugurada às 12h30, está aberta todos os dias (excepto segunda) das 12h às 22h (sextas e sábados até às 24h). Nos dias 29 de Maio, 1, 3 e 5 de Junho, haverá chá no mosteiro, às 17h, servido pelo Convento dos Cardaes. Sábado, dia 5, às 19h30, há um concerto de cravo com Flávia Castro e na sexta-feira, dia 4, um outro com o coro da Universidade Católica.

Amanhã e sábado realiza-se o colóquio Mosteiro de São Vicente de Fora - Arte e História, que inclui a apresentação de uma monografia sobre o mesmo. A publicação resulta de uma investigação sobre o património e a história do mosteiro - que na época filipina era definido como "hum dos mayores e magníficos templos não só de todo o Reyno mas da Europa".

Reunindo um conjunto de investigadores, este trabalho pretende ser a primeira obra de referência sobre São Vicente de Fora. O colóquio, com vários dos especialistas que colaboraram no livro, incluirá não só conferências formais, mas também visitas guiadas aos próprios espaços.

Além da história do mosteiro, serão analisados temas como a arquitectura, os mármores, a pintura, a azulejaria, os retábulos, a escultura e os panteões. O livro é apresentado amanhã, às 18h30, pelo bispo e historiador D. Carlos Azevedo

Belém redescoberta

Nem há cinco anos o Governo, pela mão de inefável ministro, anunciou a quem o quis ouvir uma tal de “Belém Redescoberta” como “a maior intervenção urbana em Lisboa com objectivos turísticos-culturais desde a Expo’98”. No meu lirismo, cri que a preocupação fosse de facto essa e não os construtores “ancorados” no evidentemente dispensável novo Museu dos Coches, crente porque uma mão cheia de pareceres técnicos dos anos 90 repudiava claramente a ideia de se colocar o picadeiro real no actual museu. Ainda por cima porque a própria escola de Alter tem projecto em marcha, e bem, para o quartel da Cavalaria 7, na Ajuda.

Cri que o objectivo era dar vida nova a Belém, devolver-lhe alma e chama. Dignificar os equipamentos culturais e as actividades económicas. Acabar com o caos dos automóveis, elevado à enésima potência não por causa do pastel semi-industrializado mas pelos dias de música grátis e de entrada livre na colecção do Sr. Comendador. Acreditei num investimento a sério no fabuloso Jardim Colonial e no arranjo paisagístico junto ao obrigatório Museu de Etnologia. Na recuperação do “teatrino” do Belém Clube. Na reutilização do importante quartel do Conde de Lippe. Na criação de melhor espaço público, aquém e além linha do comboio. Europeizar o comércio tradicional, a começar pelo sapateiro Barroso. Cri até que o celebérrimo relógio de sol, de âncora enferrujada junto à fonte luminosa, fosse recuperado. Mas não, apenas se agravou o que já era grave.

Construiu-se, PDM suspenso, nos sistemas de vistas de Pedrouços e, de forma caricata, na Doca do Bom Sucesso. Destruiu-se património modernista na Rua de Alcolena e de antanho na casa do governador do Forte do Bom Sucesso. Sem apelo nem agravo, tal como se demoliram as OGME, cedendo ao “bulldozer” contratualizado e oficializando como consumado um novo Museu dos Coches, mas ignorando quatro coisas: o picadeiro não vai para o actual museu, o efeito dominó inevitável nos museus vizinhos, a recomendação do Ministério da Defesa para que as preservassem, e a evidência de que a haver necessidade de um novo museu em Belém esse só poderá ser o de Arqueologia. Pelo meio houve um pacóvio movimento não de redescoberta mas de “achamento” de Belém. Tentou-se, ainda, demolir o Museu de Arte Popular em prol da popular virtualidade dos contemporâneos, e arrumar os “pedregulhos” dos arqueólogos na Cordoaria como se de um barracão se tratasse e não de MN, e logo em leito de cheias.

Valeram-nos duas coisas: o nosso “achador” riscou do mapa um tal de silo automóvel com 5 andares junto à estação fluvial de Belém, e a nova Ministra da Cultura, numa atitude de bom senso, não pactuante com o revisionismo histórico de quem a precedeu, deu por segura a manutenção do Museu de Arte Popular. Convenhamos que é pouca redescoberta.





In JN (25/5/2010)

Doente

O Governo está doente, muito doente. Já não vê, não ouve e não anda. E perdeu a consciência. O Governo não vê a realidade em que o País está mergulhado: a fome que aumenta, o acorrer às carrinhas de distribuição de alimentos, os campos por cultivar, as empresas em processo de insolvência, a imoralidade na manutenção ou mesmo aumento de todo o tipo de regalias de titulares de altos cargos (como o aumento das despesas de deputados em viagens e transportes), tudo isto quando Portugal tem o mais alto deficit externo no âmbito da OCDE.

O Governo não ouve o maior partido da Oposição sobre a necessidade de cortar na despesa, designadamente ao persistir nos megaprojectos que não são sequer financiáveis pela razão simples e evidente de que não há dinheiro.

O Governo não ouve os avisos que lhe chegam dos mais diversos sectores da sociedade, do seríssimo aviso de Belmiro de Azevedo às declarações de António de Sousa ou de Ricardo Salgado de que os Bancos já não se conseguem financiar no mercado interbancário.

O Governo não dá um passo para conceber políticas sectoriais que nos ponham a produzir, nem aproveita os fundos que o QREN, apesar de tudo, podia disponibilizar às Pequenas e Médias Empresas; não, tudo isso esbarra na ineficácia e no dia-a-dia da burocracia mais entorpecedora.

Não há uma política económica, nem de combate ao desemprego, nem de saúde... nada. Meia dúzia de medidas desgarradas e desastradas são anunciadas num dia para serem alteradas no dia seguinte, no meio da maior trapalhada, como sucede no caso dos impostos.

Inconsciente, o Governo debruça-se sobre o partido que o sustenta na patética busca de um candidato presidencial.

Sócrates, à cabeça do Governo (?), perdeu-se na estrada de viagens muito oportunas, com o País mergulhado numa paralisia económica e num desemprego crescente, sem consciência.

Se o Governo se transforma num problema crónico e não passa por ele parte de solução alguma, deixam de existir razões para que se mantenha, porque o interesse nacional passa a exigir outras soluções (não por acaso Roubini referiu que os mercados receiam que Portugal e Espanha possam não ter vontade política suficiente para reduzir a despesa pública).

Há que evitar uma crise política atenta a situação económica, mas o ponto é que o Governo se não transforme, ele próprio, num factor multiplicador da crise. Há limite.




In Correio da Manhã

quarta-feira, maio 26, 2010

À dúzia

BE questiona Governo sobre venda de terrenos do complexo desportivo do Jamor
por Agência Lusa, Publicado em 25 de Maio de 2010 Actualizado há 15 horas

O Bloco de Esquerda pediu hoje explicações ao Governo sobre a venda "inadmissível" de 12 hectares de terrenos devolutos do complexo desportivo do Jamor para construção de acessos a um novo empreendimento urbanístico em Lisboa.

Na pergunta, entregue hoje na Assembleia da República, os bloquistas interpelam o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias, sobre os motivos da "desanexação" de parcelas de terreno do Estádio Nacional, do domínio público, "para servir interesses imobiliários".

Em declarações à agência Lusa, a deputada do Bloco de Esquerda Rita Calvário referiu que a Direcção Geral do Tesouro e Finanças colocou à venda em hasta pública 12 hectares de terrenos do Estádio Nacional para a construção de acessos viários a um empreendimento urbanístico previsto para o Alto da Bela Vista, em Lisboa.

Para Rita Calvário, trata-se de uma venda "inadmissível", com "o aval" do Instituto do Desporto de Portugal, que gere o complexo desportivo e lhe deveria "dar dignidade" e "promover a diversidade desportiva", bem como "de todas as atividades de lazer".

Segundo a deputada, deveriam, inclusive, ser arranjados os equipamentos e caminhos de acesso à zona, bem como devia ser limpa a mata envolvente.

segunda-feira, maio 24, 2010

sábado, maio 22, 2010

Quem faz e quem deixa fazer não tem vergonha?!

Continua a crescer (e sem fim à vista!) a colecção de fotos [*] que documentam a falta de respeito pela calçada portuguesa. O exemplo que aqui fica é um bom pretexto para um passatempo com 2 prémios a decorrer [aqui].

[*] - inúmeras outras fotos, que documentam situações semelhantes, podem ser vistas [aqui].

sexta-feira, maio 21, 2010

Anos e anos disto... devem ser coisas muito complicadas....


Cartão Viva Viagem é um grande quebra-cabeças -Por José António Cerejo-PUBLICO

Bilhete recarregável dos transportes de Lisboa não convence. Empresas apontam limitações tecnológicas, especialista diz que falta organização

Outras notícias:
Metropolitano já encaixou quase sete milhões de euros com a venda dos cartões
Problemas são "residuais"
No Porto, o Andante anda sozinho na carteira

"Desculpe, o senhor pode ajudar-me que eu não consigo entender-me com isto?" A mulher, jovem ainda, tem na mão meia dúzia de cartões verdes. Atrás dela esperam, impacientes, cinco pessoas que querem comprar um bilhete de comboio. Na estação de Barcarena-Massamá, no sentido Sintra-Lisboa, há três máquinas automáticas para assegurar o serviço. Uma está avariada e as outras nem de longe chegam para aviar a procura neste princípio de manhã.

"Já perdi dois comboios por causa desta porcaria", exclama um homem que aguarda vez. Idosos, analfabetos, estrangeiros, utilizadores esporádicos, gente de todas as idades e nacionalidades que usa o comboio com frequência e trata por tu teclados e monitores, lidam com um sistema que parece ter sido feito para quem o conhece. "Importa-se de me tirar o bilhete?", suplica uma idosa.
Cenas como estas repetem-se a toda a hora nas estações das linhas suburbanas da CP e nas instalações do Metro de Lisboa, da Transtejo/Soflusa (ligações fluviais) e da Fertagus (comboios da Ponte 25 de Abril) onde se vende o cartão recarregável Viva Viagem, com um microchip incorporado.

Lançado em 2008, o Viva Viagem continua a ser um quebra-cabeças para muita gente, em especial para os passageiros ocasionais. Tanto mais que na maior parte dos casos, mormente no Metropolitano, não há alternativa à sua aquisição ou recarregamento nas máquinas automáticas e o sistema tornam-no complicado e pouco amigável.

Basta dizer que o Metropolitano recebeu 1888 reclamações relacionadas com o cartão Viva Viagem em 2008 e 1434 em 2009, o que corresponde a cerca de 20 por cento do total. Já a CP refere 400, a Transtejo/Soflusa 110 e a Fertagus 123, todas em 2009. E isto sabendo-se como os portugueses são avessos a formalizar queixas e reclamações, muitas vezes rodeadas de burocracias e perdas de tempo.

Uso muito limitado

Entre as queixas mais frequentes dos utilizadores destes cartões avultam a dificuldade de uso das máquinas e as limitações ao emprego de um mesmo cartão em mais do que uma empresa e em mais do que um trajecto, ainda que na mesma empresa.

De acordo com os porta-vozes da Fertagus e da Transtejo/Soflusa, a impossibilidade de carregar diferentes títulos de viagem de um único ou de vários operadores num mesmo suporte resulta das limitações tecnológicas do próprio cartão, limitações essas que a OTLIS (agrupamento de empresas que gere o Viva Viagem) está a tentar ultrapassar junto dos fornecedores.

Opinião diferente tem José Viegas, professor universitário do Instituto Superior Técnico de Lisboa e especialista em transportes, para quem o problema é de organização, ou, como diz, o que torna tudo mais confuso é o "muito deficiente enquadramento administrativo e contratual" do sistema tarifário e de remuneração dos operadores, e não o equipamento tecnológico.

Mas, como se não chegasse a ambiguidade e a pouca clareza das instruções transmitidas pelos ecrãs tácteis das máquinas, ainda sucede que de operador para operador as máquinas variam e o modo de as utilizar também. Nalguns casos, o sistema transforma-se numa charada. É o que acontece quando se tem de optar entre uma modalidade de carregamento chamada zapping e outra. Às vezes, sobretudo no metro, ainda aparece um segurança prestável que dá uma ajuda e explica que a modalidade zapping permite carregar o cartão com dinheiro utilizável em alguns dos operadores - com as excepções da CP e da Fertagus -, em vez de o carregar com viagens que se podem efectuar apenas na empresa em cuja máquina se faz o carregamento.

50 cêntimos, de cada vez

Pior do que apanhar com o zapping pela frente é colocar um cartão no leitor da máquina e perceber que ele não serve para carregar o bilhete pretendido. E isso acontece em muitas situações, nomeadamente se já lá está carregado um título de viagem de outro percurso ou de outro operador.
Por exemplo, se o candidato a viajante quer ir de Massamá para Benfica e carregou anteriormente o cartão com dois bilhetes para Rio de Mouro mas só usou um, não tem hipótese: só pode carregar mais bilhetes para Rio de Mouro. Ou então experimenta um após outro a ver se encontra algum que aceite o carregamento para o destino desejado, ou simplesmente compra um novo cartão, que lhe custa mais cinquenta cêntimos.
Viegas até considera "amigável" o sistema de bilhetes nos transportes públicos em Lisboa, embora sublinhe que essa opinião só se aplica aos utentes que fazem diariamente o mesmo percurso e recorrem, por isso, aos passes mensais. Porém, para os utilizadores "intermitentes", o sistema é "bastante menos" acessível, admite. Argumentando que "não há soluções boas" para esses casos, Viegas diz que "seria desejável que existissem passes para [um determinado número de] dias não necessariamente consecutivos", uma situação comum a outras cidades europeias, onde "os acordos de bilhética intermodal se aplicam quer aos passes mensais, quer aos bilhetes simples ou de dia", o que facilita a vida dos utentes. com Marisa Soares

quinta-feira, maio 20, 2010

Sardinhada

Vêm aí os Santos e com eles as Festas de Lisboa. E com elas as sardinhas assadas. Faccioso assumido, declaro os meus interesses territoriais: faço questão por Castelo e Alfama na véspera do Santo António, seja no que se refere à escolha do poiso para repasto de bifanas bem húmidas, chouriço assado no pão, farturas bem fritas e sardinhas gorduchas e bem assadas (ultimamente tem sido cada vez mais difícil encontrá-los a todos “au point”), seja no que toca às “figas” quanto ao vencedor das marchas, mesmo que raramente as veja marchar.

Que as Festas de Lisboa já não são o que eram, disso não restam quaisquer dúvidas. O seu ponto alto terá sido, até, naquela edição em que a Ópera de Pequim cá veio para noite inolvidável junto à Torre de Belém. Desde aí que a coisa tem sido irregular, com acentuada tendência para a mediocridade. E é pena. Porque o potencial é imenso. E porque Lisboa merece muito melhor. Por isso, reduzir-se a edição deste ano a uma questão de assador sabe a muito pouco.

Mais, as Marchas Populares deviam ser o enfoque de todas as Festas. Deviam estar para Lisboa como as “Fallas” estão para Valência ou o “Palio” está para Siena. O dia 13 de Junho devia ser projectado internacionalmente de tal forma que Santo António fosse turisticamente reconhecido como também de Lisboa e não só de Pádua. As marchas, essas deviam subir de fasquia, deviam abandonar aquele ar serôdio e vulgar, indexado ao que de mais deprimente se conhece do Parque Mayer. Devia haver um investimento prioritário de quem de direito nas marchas, não tanto sob a “confortável” modalidade de transferência bancária para as senhoras Juntas, que já se percebeu não serem capazes de mais, mas a nível de intervenção directa e articulada dos pelouros turísticos respectivos, camarário e estatal, no sentido de as puxarem para cima com um único e só propósito: fazer das marchas um “produto” de excepção, que potencie as Festas ao máximo, tornando-as no maior atractivo da cidade no limiar do Verão.

Não serão, por exemplo, os tronos de Santo António de uma riqueza cultural e comercial excepcional, e a aposta na sua produção em série obrigatória por que de indubitável mais valia económica a todos os níveis? E que dizer das indumentárias e dos adereços dos marchantes se tivessem um toque de sofisticado, de refinamento, sem se deixar cair, obviamente, a sua genuinidade? E as canções e coreografias, não poderiam mudar de tom e afinarem por outro diapasão? Não será já tempo de o país apostar forte nas Marchas?

Não faz sentido passar-se a vida a propagar uns tais de “hotéis de charme” e reduzir-se as Festas de Lisboa a uma imensa sardinhada. Agora que no Terreiro do Paço se tem a sensação de estarmos na Europa, faria todo o sentido que isso não fosse só fachada.



In Jornal de Notícias

Pesadelo

Os tempos que estamos a viver (e os que vamos viver), aproximam-se muito de um pesadelo, com a diferença de que estamos de olhos abertos: aumento de impostos, urgências em risco, 730 mil desempregados (sendo mais de metade de desempregados de longa duração), só para referir as questões mais relevantes. Ler Krugman, Nobel da Economia, a defender que os salários em Portugal, na Grécia ou na Espanha deviam ser reduzidos entre 20% a 30%, relativamente aos da Alemanha, e que vão ser "anos de sofrimento até se restaurar a competitividade" é aterrador. Há que fazer tudo para sair de onde nos encontramos e para não chegarmos ao que nos profetizam. Cortar na despesa é essencial.

Precisamos urgentemente de restaurar sectores produtivos e não apenas de estancar a actual situação. Para que existam objectivos de crescimento sustentado. Para que os sacrifícios que viermos a suportar não sejam em vão. Não vão ser anos fáceis.

O Governo está a revelar-se manifestamente incapaz de aceitar e compreender a extensão da crise económico-financeira, quanto mais de tomar as rédeas do País em tal situação. As declarações contraditórias de vários responsáveis governamentais só agravam o problema (por revelarem um desnorte evidente), e a maquilhagem posta nas contas públicas também não ajuda a credibilizar o País, para além de ter outras consequências a nível interno e externo.

Mas Sócrates parece viver num outro mundo.

A afirmação recente do Primeiro-Ministro de que não pede desculpas por cumprir o seu dever revela uma de duas coisas: ou a persistência na política de marketing que o tem caracterizado (e o Primeiro-Ministro tem grande capacidade de manipulação política), ou o Primeiro-Ministro não percebe mesmo que, justamente, não está a cumprir o seu dever, nem se responsabiliza pela forma como conduziu o País, podendo os sacrifícios que se anunciam terem sido evitados. Mas não: foram anos de puro despesismo inconsequente.

Alguns olham para as possíveis intervenções do FMI e da União Europeia como soluções – no limite – mas como soluções.

Mas se o FMI e a União Europeia recusarem ajuda a Portugal? Não é um cenário académico, com o recuo da Alemanha na criação dos meios financeiros para manter o euro, a reclamar o direito de veto nos resgates da Zona Euro e o direito de o Parlamento alemão rejeitar a ajuda a um Estado-membro. A isto junta-se o Senado americano a reclamar condições para as ajudas do FMI.





In Correio da Manhã

sábado, maio 15, 2010

UM HOMEM DE CONVICÇÕES


Morreu um dos adversário políticos com quem mais vezes concordava, porventura devido à sua postura impoluta e ao desassombro com que exprimia as suas opiniões.

Era uma voz desalinhada no mainstream em que se tornou a política portuguesa. Chamava os bois pelos nomes e criticava aquilo com que não concordava, nomeadamente o rumo do país, sem qualquer medo de eventuais represálias.

Um dia foi convidado para ir a Braga a uma conferência partidária do PND tendo por tema a corrupção. Aceitou prontamente. Deslocou-se de comboio, a suas expensas. Recusou que quem o tinha convidado lhe pagasse as despesas da deslocação. Isto diz muito sobre a sua honradez, os seus princípios e até onde ia a sua militância por causas!

Tal como o Jorge Ferreira, vai deixar muitas saudades!

sexta-feira, maio 14, 2010

Saldanha Sanches

Partiu hoje.

Partiu um Homem Bom.
Um homem desempoeirado, cheio de graça, de alegria de viver; talvez por isso, talvez, o bicho o levou.

Vá em Paz.

Tão tarde já.
Esquecem-se os dias
de apagarem as horas.

No crepúsculo
o silêncio dos ausentes
.

- José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras

Adeus a Saldanha Sanches


Apenas falámos pessoalmente uma vez, para grande pena minha. Mas do seu percurso público, e das nossas trocas de mails sobre um assunto chamado Lisboa, retenho o homem bom, lúcido, disponível, jovem e de sentido de humor.

A Avenida de Roma, Lisboa e o país, esses acabam de ficar muito mais pobres. E este blogue ainda mais.

quinta-feira, maio 13, 2010

Mensagem

Não pensei escrever sobre o Papa ou a sua vinda a Portugal. Não me aventuro em domínios de Fé – que de cada um são ou não – excepção feita aos fanatismos que execro, sobretudo porque, entre outras consequências, conduzem ao domínio e condicionamento do outro.

Mas a mensagem de Bento XVI impressionou-me vivamente.

Numa época em que aquilo a que mais assistimos é o descartar de responsabilidades várias e independentemente da questão religiosa, Bento XVI foi um exemplo. As duras palavras que proferiu relativamente à própria Igreja revelam muita coragem, mesmo muita. E a coragem é algo que anda arredado da maioria dos responsáveis.

Ao afirmar que a 'maior perseguição da Igreja' não vem de fora, mas de dentro e que, para enfrentar o pecado dentro da Igreja é preciso penitência, perdão, mas também necessidade de Justiça, porque o perdão não substitui a Justiça, ou que a perseguição à Igreja nasce do pecado da própria Igreja, o Papa Bento XVI resumiu e assumiu todo um tratado de conduta ética e política. E separou claramente o perdão da Justiça humana. Separou as dimensões. Clarinho como água. Mas não se deteve aí. Já referira que a economia tem de ser 'eticamente estruturada' e que não pode esquecer a solidariedade.

Em ‘A Caridade da Verdade’, Bento XVI refere que a ausência de mecanismos de controlo de mercado são a causa de graves desequilíbrios, pois separam o agir económico, ao qual compete produzir riqueza, do agir político, cuja função é a redistribuição.

Tudo o que antecede podia ser um manifesto de actuação aplicável às actividades políticas, económicas e até à conduta de cada um (independentemente e para além, naturalmente, da dimensão religiosa, mas esta, repito, não me cabe abordar).

O Poder mal utilizado lida mal com a Verdade e a Coragem e Bento XVI, para além de todas as diferenças, revelou nas suas palavras e no seu sofrimento (bem espelhado no fácies), uma dimensão de que as sociedades precisam urgentemente.

Uma dimensão de autocrítica, de assunção de erros cometidos, do reconhecimento do papel da Justiça, mas também de esperança. Tudo a que não se assiste entre nós.

Diz e escreve quem sabe, que Bento XVI é um homem solitário entre os seus livros, no seu perfil de melómano e no seu carácter reflexivo e que, de certa forma, é um mal amado nos corredores do Vaticano.

Não admira.




In Correio da Manhã

quarta-feira, maio 12, 2010

Animem-se, lisboetas!

Em Maio de 2010, continua anunciada
a Semana da Mobilidade... de Setembro de 2009!
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Em Lagos, claro!

terça-feira, maio 11, 2010

segunda-feira, maio 10, 2010

Apontamentos de Lisboa

Av. Fontes Pereira de Melo
5 Mai 10
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DESDE tempos imemoriais que todo este passeio (um pouco acima, e no enfiamento do que se documenta no 'post' anterior) está interdito aos peões. Não vale a pena perguntar «Ninguém tem vergonha?», pois a resposta é bem conhecida...

A corja

Av. Fontes Pereira de Melo - 5 Mai 10
DIZEM-ME que é possível processar a cambada que - quer por acção, quer por omissão - é responsável por situações vergonhosas (e perigosas) como esta.
Alguém sabe se é verdade e, sendo-o, o que é que é preciso fazer?
É que, por mim, estou pronto para avançar, e até a gastar algum dinheiro nisso.

sexta-feira, maio 07, 2010

Porquê?

Como explicar que o Governo de José Sócrates persista na intenção de grandes gastos, em empreendimentos vultuosos, que não só não contribuem para o nosso crescimento como nos vão endividar mais? Para além, claro, de aprofundar as desconfianças dos mercados sobre o País... que tanto continua a gastar e muito deve... Porquê?

Todos sabemos que o País não tem dinheiro, que está profundamente endividado, logo, há prioridades.

Qual a família que, estando endividada, continua a pedir mais e mais dinheiro emprestado para aquisições não prioritárias? Quais as famílias que compram produtos sumptuários, estando desempregadas ou com necessidades básicas por resolver?

Que gestão económica de um País é esta em que um Presidente da República – com a autoridade que lhe é reconhecida – e enquanto Professor de Economia avisa que é elementar, repito, elementar, reconhecer estes erros e se depara com a teimosia do Governo? Porquê?

Que gestão é esta que faz com que ex-ministros das Finanças de diferentes sensibilidades se inquietem com a pressa do Governo em assinar o contrato do TGV Poceirão--Caia e solicitem uma audiência ao Presidente da República, noutro grito de alerta, que recebeu do Governo (mais) uma resposta arrogante? Porquê?

É sempre bom ouvir a voz da experiência, do conhecimento, mas as decisões participadas não fazem o gosto ao Governo.

Nem mesmo os alertas dos presidentes do BES e do Santander Totta sobre a falta de crédito fazem Sócrates recuar e essas instituições teriam interesse em conceder crédito, se também se pudessem financiar. O Governo arrisca-se, ainda, a deixar projectos caros a meio... e, além do mais, vai diminuir o pouco crédito disponível para as pequenas e médias empresas e para as famílias que dele precisam. Porquê?

Após tudo isto, temos de nos interrogar: será que o primeiro-ministro é hoje um ser fora da realidade do País ou, noutra explicação, que interesses são superiores aos da ponderação dos interesses do País? Que gestão é esta, que pressa é esta?

E, obviamente, o argumento das indemnizações vultuosíssimas não colhe, pois não só ocorreu uma alteração de circunstâncias, como não se iniciaram obras e, finalmente, a prevalência do interesse público no regime da contratação pública limita-as.

Seja como for, José Sócrates empurra-nos teimosa e arrogantemente para um desastre anunciado até à náusea. Porquê?





In Correio da Manhã

O Metro à superfície

Longe vão os tempos da linha em “Y” que ia de Alvalade a Entrecampos ou Sete Rios, qual duplo-decímetro do nosso descontentamento. Mais longe aqueles em que nem aí chegava, mas em que, apesar de tudo, o Metro ainda tinha respeito pelo espaço público à superfície, i.e., por quem não passa o dia debaixo de terra. É certo que desde então chega mais longe, com mais composições e estações modernizadas, e funcionários nos antípodas dos “simpáticos” colegas desses tempos. Foi um esforço de recuperação de um atraso geracional em relação aos metros de outras capitais e há que dar os parabéns a quem nele investiu. Mas isso foi lá em baixo porque cá em cima o esforço foi em sentido inverso.

À superfície tem havido estaleiros anos a fio. O caso mais revoltante foi, até há poucos dias (boa vontade da nova administração do Metro? Se foi, agradecido…), o da Alameda, ali montado durante 10, 15, 20 anos? À superfície têm proliferado grelhas de respiração a quotas ridiculamente altas (dizem-me que a razão para tal acontecer é que o Metro tem receio que as pessoas caiam se não houver protecção. Belisquem-me!). Ele são ainda caixas de elevador tapando vistas (Rato, A Brasileira, etc.) e escadas com corrimãos desproporcionados quando não autênticos “monumentos” de mau gosto (Terreiro do Paço, Roma/Sul, etc.). Exemplos maiores desse tipo de “arranjo à superfície” são o já “clássico” degrauzinho no centro da placa central do Rossio e a recentíssima requalificação (outra palavra perigosa) junto ao Corte Inglês.

No Rossio houve um excelente projecto de recuperação no pós-Lisboa’94, que abrangeu a placa central, as faixas de rodagem, a pintura das fachadas (em “dégradé”), a fundição de candeeiros de época, o desenho de quiosques de jornais e flores, bancos de estar, engraxas, e, claro, a plantação cuidada de árvores. Caso único, havia até a intenção de continuar o mesmo projecto para a Praça da Figueira, São Domingos e zona defronte à Estação do Rossio da CP. Ficaram-se pela intenção. Imediatamente antes, contudo, houve as obras de ampliação da estação de Metro, e a CML, antecipando-se ao problema, forneceu ao Metro as cotas respectivas para que não houvesse depois “colisões” à superfície. Deu asneira: o respirador haveria de ficar muito acima da cota projectada pela CML para a nova placa. Seguiu-se um braço-de-ferro entre ambos, inconsequente até hoje. A correcção estética, essa, custava 30mil contos e hoje custará milhões. Solução encontrada: fazer de conta.

Junto ao Bairro Azul foi tudo feito “às três pancadas”, numa “sui generis” proliferação de muros e muretes, caixas de elevador e respiradores sem qualquer nexo, uma amálgama de betão e pedra a que ousaram chamar de arranjo paisagístico. Uma vergonha. Provisória? Pois.




In JN

quarta-feira, maio 05, 2010

terça-feira, maio 04, 2010

Já está melhor!...

Lisboa - Rua Conde de Sabugosa
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Dantes, era frequente ver este ecoponto ornamentado com "embalagens" em vez de "garrafas". Actualmente, já há quem lá coloque "embalagens de garrafas" - portanto, já não falta tudo!

segunda-feira, maio 03, 2010

No seguimento do 'post' anterior

Serão livros só para adultos?

sábado, maio 01, 2010

Apontamentos de Lisboa

QUEM conhece a Feira do Livro de Lisboa sabe que ela se desenrola num terreno inclinado, o que implica que, sem um estrado, as prateleiras do lado Sul fiquem praticamente inacessíveis a leitores com menos de - digamos - 1,80m... Isso não parece preocupar a maioria das editoras, mas as outras resolvem o problema como podem: improvisando, cada uma à sua maneira.

NOTA: as três primeiras fotos são de ontem à tarde. A última (do stand da Majora, para crianças!) é do ano passado, tendo sido publicada num post onde o assunto foi abordado - ver
[aqui].

E os congressos, conferências e debates sobre mobilidade quando nem sequer conseguem tirar os carros dos passeios?

Com a devida vénia, faço minhas as palavras de um comentador do post O "Cidadão Principal" no Largo do Picadeiro? no Cidadania LX.:

"Bem podem fazer parqueamentos com lugares para o dobro do número de carros existentes em Lisboa. Enquanto se puder estacionar sobre os passeios e de graça, não vale a pena.
Já aqui tinha referido que a EPUL deveria ser extinta e a EMEL bem lhe pode fazer companhia. Para ter a cidade neste estado não é preciso estar a pagar a gestores, consultores e outros."