quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Redenção

O actual Primeiro-Ministro iniciou quarta-feira de cinzas o seu périplo pelos principais órgãos e estruturas do Partido Socialista.

É sintoma de um Primeiro-Ministro inseguro das suas próprias tropas. É sintoma de um Primeiro-Ministro a tocar a rebate. Mas é também sintoma de algo mais profundo: os últimos acontecimentos no nosso País levam-nos a pensar que Sócrates se está a tornar descartável para quem o produziu.

O actual Primeiro-Ministro é, de facto, uma obra-prima de produção política. É uma construção ficcionada e, como sucede tarde ou cedo com todas as construções políticas, a maquilhagem vai derretendo. Só que Sócrates foi útil a muitos e é natural que não se queira deixar substituir. Tal como Narciso, encantou-se consigo próprio e acreditou na imagem que lhe foi sendo construída. Acreditou que era "O Poder" e não que "O Poder" o tinha feito.

Só que, não tenhamos dúvidas, os que fazem o "Poder" ou dele dependem são implacáveis e se e quando Sócrates deixar de servir, vão arranjar-lhe substituto, depois de uma fase de adequada defesa.

Mesmo que Sócrates sinta fugir-lhe o chão, numa fase tão crítica da vida económica e social do País, não se deveria virar para dentro do Partido, onde aliás encontrará, como se asas brancas tivessem, alguns a quem está a deixar de ser útil. A economia nacional estagnou no último trimestre de 2009, o número de desempregados inscritos aumentou em Janeiro, não se vislumbra esperança para domar esta crise. Não é momento para pensar em salvar a "pele política", mesmo que ela fosse (?) salvável.

Não há como não concluir que os inúmeros problemas de fiabilidade, que se relacionam directa ou indirectamente com o Primeiro-Ministro, indiciam que há já quem procure material para nova produção.

Ora, mais do que o Senhor que se segue, é importante que esse Senhor que se segue não sirva para compensações à custa dos dinheiros públicos, seja por que maneira for e a quem for.

De formas distintas, os dois maiores Partidos portugueses vivem tempos de sucessão. Um e outro precisam de deitar fora velhos e maus hábitos instalados. Isso não se fará sem um terrível ranger de dentes por parte de todo o tipo de interesses instalados. O contrário seria impossível: é de sobrevivência ou impunidade que se trata. Mas a redenção, afinal, é sempre possível, mesmo no domínio do político, mesmo em tempos de fim de festa.




In Correio da Manhã

1 comentário:

Anónimo disse...

Está tudo doido em Portugal.

Agora até o sr. PGR veio dizer que o caso das escutas é do domínio do político.

Ora:

1. Não parece que o sr. PGR tenha alguma coisa que vir fazer considerações desse teor, mas apenas do domínio que está sob a sua alçada, que não é manifestamente a política.

2. Por coincidência, veio a público que a PJ andou a fazer buscas na Taguspark e no gabinete de um administrador da PT por parte do Estado envolvido nas escutas... Ou seja, a PJ anda metida no domínio da política...


Não dá para imaginar que mais poderá acontecer.