quinta-feira, janeiro 14, 2010

Sem tempo

Com franqueza, entendam-se o Governo e os Partidos sobre o Orçamento. Já estamos a meio de Janeiro. E sobretudo estruture o Governo com a Oposição o Programa de Estabilidade e Crescimento, que aquele primeiro vai ter de apresentar em Bruxelas, durante a Primavera.

Nada disto vai ser fácil ou se passará sem um violento aperto de cinto colectivo, co-mo é evidente.

O Banco de Portugal anunciou que o Produto Interno Bruto crescerá 0,7%, este ano, é certo. Porém, anunciado está também para 2010 o aumento do desemprego (perderemos cerca de 65 mil postos de trabalho este ano); anunciado está que o investimento continuará a cair, que a dívida pública vai aumentar e que os bens que os portugueses consomem estarão mais caros.

As agências de rating flagelam-nos e a comparação com a Grécia surge, inevitável. Tal como o temporal que assola o País, assim está a nossa situação económica e social.

Quando se está a um passo do abismo, o melhor é fincar os pés no chão, avaliar a situação e procurar dar uns passos noutras direcções mais seguras, construindo abrigo sólido.

Os diagnósticos estão feitos (aliás, o Banco de Portugal até elenca alguns), mas a funcionalização da sociedade a todos os níveis, a sua dependência do que é público, continua assustadora, pouco transparente e promete pouco. Esta constante dependência do privado perante o público – directa ou indirectamente – é o primeiro nó que teríamos de cortar para restituir liberdade ao tecido económico, sem prejuízo daquilo que entendo que deva ser o papel de elaboração de planos de desenvolvimento para o País e da retoma dos clusters (que os temos), reivindicando perante Bruxelas muito do espaço que fomos perdendo, sobretudo na Agricultura e Pescas. Como é evidente, sei que não é fácil e o Tratado de Lisboa veio dificultar a afirmação dos pequenos países.

Se parte da solução para o desemprego está na qualificação, também é verdade que muitos já não terão essa possibilidade. E esses serão a maioria, e esses serão os que têm de nos preocupar, a par do desemprego juvenil, com a desestruturação social que tudo isto implica.

O Governo e a Oposição terão realmente de se entender, não podemos perder mais um dia, muito menos outros quantos anos. Estamos sem tempo, a única coisa que não se recupera, mas que tantos se sentem no direito de nos tirar. Diariamente. Levianamente.



In Correio da Manhã

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