quinta-feira, julho 23, 2009

O cativeiro

Nada diz com nada. Arrasta-se o caso do BPP. Perante o pedido de demissão do presidente do BPP e após a apresentação de sucessivos planos de recuperação que aquele viu 'chumbados', o Banco de Portugal decreta-lhe o trabalho obrigatório, coercivo.

O presidente do BPP apresentou soluções. Todas foram reprovadas. Sem outras soluções, o professor Adão da Fonseca fez o que era suposto: apresentou a sua demissão. Estar, mas sem rumo e nada poder fazer também nada pode significar para alguém que queira fazer algo.

Pois bem, o Banco de Portugal obriga o presidente a ficar, mesmo sem soluções. Resta saber qual é a lógica: ou o BPP e o Governo têm soluções alternativas ou é no mínimo imoral chumbar soluções propostas – sem que se saiba porquê – e manter uma Administração em cativeiro (solução de que o Governo parece gostar quando é contrariado). Mas a situação é absolutamente insustentável. Obrigar alguém a ficar contra a sua vontade nunca é boa solução. É claro que o Governo, perante um dossiê tão complexo, quer tudo menos um problema a mais em véspera de eleições e portanto... o que é urgente pode esperar. Como sempre, neste país adiado e desmoralizado, onde pontua a desconfiança.

Ao Banco de Portugal – enquanto acumula falhas na supervisão bancária e se dá ao luxo de nem director de supervisão ter por estes tempos – junta-se agora a 'incapacidade' decisória do Governo. Também não é novidade: muita capacidade de decisão para umas (poucas) coisas, nenhuma para outras.

Capacidade decisória parece ter tido o Governo numa situação que, essa, não é seguramente clara: refiro-me à concessão do terminal de Alcântara à Liscont, sem concurso público e à isenção de taxas que a Liscont deveria pagar à Administração do Porto de Lisboa. Milhões. Ainda bem que o caso foi oportunamente enviado para a Procuradoria-Geral da República.

Isto tudo num ambiente em que o mínimo que apetece dizer é que definitivamente alguns governantes (actuais e ex) têm pouco jeito para os negócios e outros muito, muito, muito.

Mas como pode alguém querer que se perceba esta salgalhada?

É por isto que, sobretudo neste contexto, assistir a que os Tribunais, em Lisboa, sejam atirados para um local sem condições e de difícil acesso não pode deixar de ser lido como um gesto que, se não é, parece, de desprezo pela Justiça, atirando-a, também a ela, para um cativeiro. Porque será?




In Correio da Manhã

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