quinta-feira, junho 25, 2009

Nuvens

Não há dúvida de que as nuvens se adensam. O que vai ser disto, perguntam-me com frequência, num misto de cansaço e resignação. Isto, no caso, é o País, que muitos tratam por este País. Sair desta situação vai ser muito difícil.

A Comissão Europeia incluiu Portugal no grupo de Países (de entre os 27) com menos margem orçamental para combater a crise. É mais uma má notícia que os últimos indicadores de emprego não aliviam, tratando-se, como se trata, nos meses de Verão, de emprego sazonal. O desejável post crise implica más notícias e um muito e novo óbvio apertar de cinto.

Com os processos eleitorais que se avizinham, era importante que, para lá da espuma da verve eleitoral, se discutissem verdadeiras alternativas para o País. Podíamos aprender e retirar as ilações e lições necessárias. Comecemos por abandonar os vícios. Saibamos estruturar de forma coerente e duradoura a sociedade que pudermos ter, muito para além da partidarite.

Para que fique para trás o desmantelamento selectivo do Sistema Judicial.

Para que fique para trás o facilitismo na educação, que só gera ignorância e homens e mulheres pouco qualificados, destinados a empobrecer. Para que fiquem para trás modelos de avaliação que transformam professores em burocratas, com prejuízo do ensino.

Para que fique para trás o aumento sucessivo de impostos, que apontam Portugal como o País onde a carga fiscal mais cresceu entre 2000 e 2007, empobrecendo pessoas e empresas.

Para que fique para trás o desnorte na realização de grandes investimentos, de que a OTA e o "jamais" de Alcochete são exemplos tristes. Pense-se e planifique-se antes de actuar, para não andarmos depois aos avanços e recuos.

Para que fique para trás o abandono da agricultura, da pesca e das indústrias ligadas ao mar.

Para que fique para trás o desmantelamento das poucas instituições de investigação que tínhamos, como é o caso do INETI.

Para que fique para trás o deslumbramento, a funcionalização e a arrogância do poder. Para que o poder da Administração Pública não condicione ninguém. Para que o parasitismo político com as suas metástases não corroa, no seu corrupio de interesses, a nossa sociedade. Para que a impunidade termine e a ética predomine.

E para que a aceitação e o respeito de todas as diferenças sejam uma prioridade numa cidadania madura e inclusiva.

E para que nós possamos ser, enfim, cidadãos empenhados, responsáveis, mas livres.




In Correio de Manhã

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