segunda-feira, novembro 17, 2008

A loucura invadiu o Ministério da Educação

Ainda há pessoas que pensam que o Ministério da Educação tem razão contra os professores. É para esses que escrevo, uma vez que, pela minha parte, há muito que estou convencida de que, na 5 de Outubro, impera a mais rematada loucura. Se não acreditam,leiam o resumo da notícia publicada, sem desmentido, no Diário de Notícias, de 10 do corrente mês.

A Direcção-Geral dos Recursos Humanos acaba de enviar aos professores-avaliadores, isto é, aos docentes escolhidos para determinar o mérito dos colegas, um opúsculo tendo como título “As Dinâmicas Organizacionais da Escola”, no qual os primeiros são convidados a “reconhecer a importância dos processos de auto-análise (sic) no desempenho das funções de liderança”. Como folheto, vem um questionário, com 56 perguntas, supostamente destinado a ajudar os professores-avaliadores no freudiano exercício de se questionarema si próprios, a fim de descobrirem “o seu estilo de liderança”, através de – gesto típico da mentalidade que subjaz aos actos daquele departamento – respostas susceptíveis apenas de dois sinais, “verdadeiro” e “falso”.

Mais uma vez, os docentes são tratados como autómatos e a escola reduzida a uma realidade mecânica. Não contente com os anteriores disparates (ver as grelhas de avaliação a serem utilizadas), a Direcção-Geral pretende que os professores-avaliadores respondam a perguntas reveladoras da sua atitude quanto a vários temas: um dos quesitos incide sobre a sua predisposição para vestir roupas “vistosas, boémias ou que chamassem a atenção de qualquer forma”.

Um tempo houve, o do Estado Novo, em que as professoras eram impedidas de se maquilhar. Dada a natureza do regime, isto fazia sentido. Mas, em democracia, que legitimidade tem o Ministério para indagar coisas que são do foro da vida privada? No clima em que se vive, já não sei em que acreditar. Tudo, mesmo as coisas mais surrealistas, se tornaram verosímeis.


Maria Filomena Mónica


In Meia-Hora

Sem comentários: