quarta-feira, outubro 08, 2008

AÍ ESTÁ ELE, DE NOVO!

Por mais que me custe interromper o alarido assanhado e obstrutivo por aí disperso, continuo a dizer da pátria, dos costumes e da fancaria. Falava dos ziguezagues da política, sob o modesto pretexto de criticar as suas tentações para a irresponsabilidade. Ia no ponto e vírgula. Eis que surge a campanha pró-município. Não é fatalidade: é farsa. Se a esquerda parece uma daquelas escorrências do Miguel Sousa Tavares, a que ele chama artigos, a direita representa-se como hilariante comédia de Gervásio Lobato. Vivemos numa atmosfera de absurdo e dissimulação. Manuela Ferreira Leite concedeu, austera e firme, o nihil obstat à ressurreição de Santana Lopes. Nada a dizer: é lá com eles. Especialmente com Pacheco Pereira, mentor político e ideológico da presidente do PSD, e crudelíssimo crítico de Santana, pelo qual nunca disfarçou o maior dos desprezos. O Pacheco deve estar espavorido. Ou perdeu crédito, ou foi exautorado ou, simplesmente, ignorado e colocado ante um facto concluído. Na assombrosa epopeia da nossa história cómico--política, Santana Lopes sempre passou de nome funerário à refulgente virtude de condestável. Pessoalmente, estou deveras preocupado com o Pacheco e seu destino. Não é que ele seja só testa. Notoriamente, possui mais do o que caracterizava o seu homónimo da Correspondência de Fradique Mendes; mas não deixa de ser um produto de Portugal: sujeito, portanto, às oscilações do meio e à natureza que o impulsiona para astuciosos avanços - ou o remove para tormentosos recuos. O Pacheco, nesta cruzada de purificação que empreendeu, já há anos, Santiago o proteja!, perdeu estrondosamente. E Santana é, novamente, o estrénuo vencedor. Atrás dele, uma corte solene, leal e inabalável, detestada pelo Pacheco. Santana tem amigos e muitas amigas. O Pacheco nem, sequer, instantes de amizade. Caso a dr.ª Manuela Ferreira Leite houvesse em atenção os seus avisos, as coisas seriam como são? Infere-se que abstraiu o conselheiro e decidiu por si própria ou após outro aconselhamento. Mas esta solução contraria o austero espírito da senhora que, propriamente, não traz a foto de Santana próximo do coração. Santana cultiva a frivolidade, aprecia a noite, é um courreur à femmes. A dr.ª Manuela é pessoa de recolhimento, dada ao agasalho do silêncio, contrária à agitação, à festa. Que determinou a alteração da senhora, ao designar Santana como candidato ao município de Lisboa? A dr.ª Manuela cedeu às instigações da "visibilidade" e ilustrou a tese de que a política desconhece a ética e a função próprias. Como muito jornalismo circundante. Haja Deus e haja Freud! No momento. Os amigos presentes. Sempre. No meio do alarido, dezenas de mails, telefonemas, cartas e sinais de respeito e afecto.


Baptista-Bastos


In Diário de Notícias

4 comentários:

Anónimo disse...

Oh não! Que sorte madrasta a nossa...A CML precisa é de uma grande limpeza, para depois começar a tratar da cidade. Ora com Santana estamos outra vez lixados.
Será que o PSD não tem mais ninguém? (O Paulo Morais seria um bom candidato)

Anónimo disse...

Votarei no candidato que prometa pôr fora dos fogos municipais quem tem casa em Constância.

Anónimo disse...

Também eu.

Paulo Ferrero disse...

Custa-me a crer que o PSD perca esta importante oportunidade de, em vez de escolher, finalmente, um candidato credível, ou seja, que não faça rir, sem mácula no respectivo c.v., que não dependa de partidos, que seja inexpugnável a lóbis de qualquer espécie, que seja competente e conhecedor do ofício, que tenha moral e não tenha séquitos, sendo capaz de estabelecer pontes com a sociedade (não confundir com socialite); o PSD acabe por escolher precisamente o contrário, ainda por cima contrariando, como diz e bem BB, o que têm sido as tomadas de posição públicas de MFL, PP, etc. em relação ao pseudo-escolhido. No mínimo, tudo não passaria de uma imensa hipocrisia ... e nisso, pelas pessoas envolvidas, recuso-me a acreditar. Chamem-me parvo.