quinta-feira, abril 10, 2008

Objectividade

A administração participada permite evitar, não todos, mas pelo menos muitos erros e omissões.

A quem tem poder de decisão exige-se objectividade e que se tome as decisões longe de paixões pessoais e políticas, servindo da melhor forma o bem comum. O processo de decisão tem de ser frio e justo. Tanto quanto deve ser apaixonada a luta por causas. E deve ser participado.


Quando o primeiro-ministro anunciou para o aeroporto a solução Alcochete, fez acompanhar esse anúncio de um outro: o da ponte Chelas-Barreiro.


Tive a oportunidade de manifestar estranheza por este curioso duplo anúncio e muita preocupação por Lisboa.


Anunciada também, mas não no seu recorte concreto (designadamente institucional), foi a questão da chamada frente ribeirinha de Lisboa, mas esta pode, ao contrário da ponte, ser uma oportunidade.


Embora anunciados, nem todos os órgãos autárquicos em Lisboa foram ouvidos sobre os projectos em causa. A administração participada permite evitar, não todos, mas pelo menos muitos erros e omissões.


Quanto à ponte Chelas-Barreiro não enjeitarei obviar a que se torne um facto consumado: os dados e elementos disponíveis evidenciam lesões que vão da qualidade de vida ao ambiente ou à descaracterização de parte da cidade.


Quanto à frente ribeirinha há muito por explicar aos lisboetas. Espera-se que não haja a tentação de recorrer a planos especiais para furtar a discussão à cidade. Espera-se que não ocorram precipitadas desafectações do domínio público.


Espera-se que o uso do espaço e o modelo de gestão sejam prévia e exaustivamente conhecidos após o necessário debate na cidade: e em nenhuma circunstância tem de haver conformismo com soluções que estão por justificar. Só para citar algumas, o terminal de cruzeiros em Santa Apolónia, novos parques de estacionamento subterrâneos (Campo das Cebolas, Largo do Corpo Santo), uma via em túnel...


A ocupação da zona de Chelas em função da localização da ponte em simultâneo com a Frente Tejo habilitam um fortíssimo impacto na cidade que não se pode dar ao luxo da descaracterização, nem pode ver agravada a falta de ordenamento que a tem caracterizado.


Os processos de tomada de decisões que são depois confirmados por estudos que lhes deviam ser prévios ou, dito de forma mais directa, situações que antes de o ser já o eram, só por sorte correspondem aos interesses das comunidades. E a sorte deve ter muito pouco a ver com questões desta natureza.




Paula Teixeira da Cruz





In Correio da Manhã

1 comentário:

aeloy disse...

Na linha de comentário a post anterior só posso dizer M.B.
E que a Dra promova na A.M. a necessária tomada e posição e o debate que é fundamental, que embora sem voz nessa os Cidadãos por Lisboa não deixarão de o acompanhar com toda a atenção.
António Eloy