sexta-feira, novembro 30, 2007

Bem me parecia

"TÚNEL DO MARQUÊS

Mas para além desta situação também os acessos ao Túnel do Marquês, para quem desce a Av. Fontes Pereira de Melo ou sobe a Avenida da Liberdade, se tornaram mais difíceis. De acordo com fonte da CML do controlo de trânsito de Lisboa, no caso do primeiro acesso resulta de uma adaptação dos condutores ao posicionamento central da entrada do túnel, enquanto no que respeita aos quase constantes engarrafamentos na Av. da Liberdade se deve a uma alteração do tempo dos semáforos na saída da Av. Joaquim António de Aguiar e no interior da Rotunda, de forma a permitir um melhor escoamento do túnel. Ainda segundo a nossa fonte, esta é uma situação que se encontra em estudo, sobretudo porque os fluxos de trânsito do Conde Redondo e da Avenida Duque de Loulé, agora aberta a todo o trânsito e não exclusivamente a transportes colectivos, criou intensidades inesperadas de tráfego naquelas vias, que estão a ser analisadas e identificadas. "*

Pelos vistos, as filas de trânsito são para quem cá vive, mas desde que seja para "permitir um melhor escoamento do túnel", deve ser uma boa medida.

* fonte: ACP

(Isabel G.)

1º Episódio seguinte

António Costa diz cumpriu condições impostas PSD

O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa (PS), afirmou hoje que cumpriu as condições impostas pelo PSD à contratação do empréstimo e que fez «todos os esforços» para se aproximar da posição dos sociais-democratas.
«A única condição que o PSD colocou foi ter garantias que a segunda tranche [do empréstimo] não se transformaria num saco azul. Fizemos tudo para garantir que não o era», afirmou aos jornalistas à margem da inauguração de uma exposição de arte pública de Robert Indiana, no Rossio.

Essas garantias passam pela obrigatoriedade de a Assembleia Municipal autorizar a movimentação de qualquer parcela do montante da segunda tranche, incluída na proposta de contratação de empréstimo.

«É necessário bom-senso de ambas as partes e por isso temos feito todos os esforços para nos aproximarmos da posição do PSD», afirmou.

«A faca e o queijo estão na mão do PSD. Daquele dinheiro não poderá ser feito nada que não seja pagar dívidas da gestão anterior», frisou.

António Costa referiu ter estado «sempre disponível» e tido «encontros com o PSD a todos os níveis».

Confrontado com a acusação do PSD de que o valor do empréstimo é «excessivo», António Costa argumentou não ter «inventado um número à toa».

«É o número que resulta do relatório e contas a 31 de Julho aprovado pela Assembleia Municipal», afirmou.

António Costa acusou ainda o PSD de ter votado contra a contratação do empréstimo da autarquia de 500 milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos, em reunião do executivo, na quarta-feira, «sem apresentar qualquer proposta alternativa».

«O que a Câmara pede à Assembleia é o mínimo que se pode pedir: condições para pagar as dívidas que herdámos», declarou.

António Costa não excluiu quarta-feira a hipótese de se demitir do cargo se o PSD inviabilizar na Assembleia Municipal a contratação de um empréstimo de 500 milhões de euros para pagar a fornecedores.

A proposta poderá ser inviabilizada na próxima terça-feira na Assembleia Municipal, órgão em que o PSD está em maioria absoluta.

A contratação do empréstimo à Caixa Geral de Depósitos e duas tranches, a primeira de 360 milhões de euros para pagamento imediato de dívidas a fornecedores, a segunda de 140 milhões para dívidas que estão em contencioso judicial, teve os votos contra do PSD, a abstenção dos eleitos da lista Lisboa com Carmona e os votos favoráveis do PS, PCP, Cidadãos por Lisboa e Bloco de Esquerda.

- DD

Cof, cof ... com licença ...

... não tenho dado muito para o peditório cá da casa por motivos de saúde!

Entretanto, durante esta semana, fiquei chocada com a pretensão do actual presidente do município em apregoar uma pretensa eminente demissão!!

Não vi cair o carmo e a trindade!!
As hostes estão muito calmas ... Será da minha vista ou é mesmo a realidade?!

Vamos ter de novo eleições intercalares?
Já dei anteriormente para esse peditório, não tenho a menor vontade de voltar a dar para tão triste cortejo.

Ora, em causa está:

- a contratação de um empréstimo à banca no valor de 500 M de euros para a regularização de dívidas a fornecedores e pagamentos correntes;

- a iniciativa partiu do presidente do município, aquele que em tutela governamental proibia as autarquias de se endividarem ...

- no entanto, a autarquia lisboeta necessita desse valor para fazer face aos compromissos que foram preteritamente assumidos e não respeitados ...

- o PSD na vereação camarária opôs-se, ainda assim a iniciativa foi aprovada com os restantes votos (pelo menos é minha percessão), teme-se que da parte da maioria PSD na AML chumbe a iniciativa da presidência ...
Quid Iuris?

Será Costa camarário entalado por Costa ministrial?
Será Costa camarário entalado pela maioria PSD AML?
Será Costa entalado pelos jogos de poder político-municipais-nacionais?

Sintonizem nos próximos episódios ...


Relógios


Um grupo de interessados nestas coisas - e que não dá tréguas por inércia... pensou no modo de intervir. E a coisa saiu.
Acabámos de criar um novo blog: um instrumento de defesa dos relógios históricos de Lisboa.

LIVRO VERDE "Por uma nova cultura de mobilidade urbana"


The Green Paper on urban mobility
(Adopted 25 September 2007)

Enfrentar o desafio
2.1 Vilas e cidades descongestionadas
Promover as deslocações a pé e de bicicleta…
E do transporte de mercadorias…

2.2 Vilas e cidades mais verdes
Opções:
Novas tecnologias…
… com o apoio de contratação pública respeitadora do ambiente
e de contratação conjunta respeitadora do ambiente
… e novas formas de condução
Restrições de tráfego
2.3 Transportes urbanos mais inteligentes
2.4 Transportes urbanos mais acessíveis
Opções:
Transportes colectivos que respondam às necessidades dos cidadãos…
… partindo de um quadro jurídico comunitário adequado
… e mediante soluções inovadoras e competências adequadas
2.5 Por transportes urbanos seguros
Comportamento mais prudente…
... Infra-estruturas mais seguras

3.Criação de uma nova cultura de mobilidade urbana
3.1 Melhorar os conhecimentos…
3.2 …e a recolha de dados .
4. Recursos financeiros
5. Consultas
A Comissão pretende continuar a incorporar o parecer das partes interessadas nos seus trabalhos. O presente Livro Verde dá início à segunda consulta intensiva, que decorrerá até 15 de Março de 2008. Todas as partes interessadas são convidadas a contribuir para a definição de uma política europeia de mobilidade urbana e a responder às 25 perguntas do documento,bem como às questões gerais que aborda. Os pareceres manifestados poderão ser tornados públicos, excepto quando expressamente solicitado em contrário.

Os comentários e sugestões podem ser enviados para os endereços seguintes: – por correio electrónico, para: tren-urbantransport@ec.europa.eu
Para mais informações, consultar o sítio Internet da Comissão Europeia:
http://ec.europa.eu/transport/clean/index_en.htm.
(Isabel G)

Anúncio esquisito (*)

«Antiguidades
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(rol de mobiliário e artigos de decoração)
...
Fabricamos


(*) Publicado em jornal diário, e colado em várias zonas da Av.Roma

TEATRO DA TRINDADE FAZ 140 ANOS


Hoje o Teatro faz anos. Parabéns e longa vida ao que já foi o Teatro chique de Lisboa, inaugurado em 1867.
"Implantado no local onde, antes do grande terremoto de 1755, existira o Palácio dos Condes de Alva e funcionara a Academia da Trindade - a primeira tentativa conhecida de implantar um Teatro Popular de Ópera de Lisboa - o Teatro da Trindade deveu a sua existência à iniciativa do empresário, homem de letras e director teatral Francisco Palha. Foi ele que em 1866 constituiu uma Sociedade destinada à construção do novo teatro, que viria a ser desenhado pelo arquitecto Miguel Evaristo de Lima Pinto. No carnaval de 1867 abriu ao público o Salão da Trindade, uma sala de bailes, concertos e conferências anexa ao Teatro e, em 30 de Novembro de 1867 o Teatro da Trindade propriamente dito, numa estreia de gala a que esteve presente a família real para ver a nata dos actores da época representar um drama (A Mãe dos Pobres, de Ernesto Biester) e uma comédia (O Xerez da Viscondessa). Foi no Trindade, pela mão de Francisco Palha, que se impuseram entre nós os espectáculos de opereta e zarzuela que tanto se implantaram no gosto do nosso público oitocentista. A opereta francesa, a sensação do momento na Europa, aparece no Trindade em 1886, com O Barba Azul de Jacques Offenbach, e tanto agradou que o género dominou durante décadas, tornando-se a especialidade da nova sala. Esta apresentação foi de tal modo importante que Eça de Queirós começa a Tragédia da Rua das Flores com "Era no Teatro da Trindade, representava-se o Barba Azul". Sousa Bastos é outro nome de referência que foi empresário no Trindade e que traz para a companhia residente uma das maiores actrizes portuguesas Palmira Bastos. É com Sousa Bastos que o Trindade alarga o seu repertório. Desde a sua inauguração, a história do Teatro da Trindade está ligada a alguns dos acontecimentos culturais mais marcantes na cidade de Lisboa: foi no Salão da Trindade que, em 1879, foi apresentado aos lisboetas o fonógrafo de Edison ou o relato do explorador Serpa Pinto sobre a sua travessia de África, foi aqui que actuaram, anos mais tarde, intérpretes do calibre do violinista Sarrazate e do pianista Viana da Mota (que no Salão da Trindade deu o seu primeiro concerto público, com apenas 12 anos de idade). Em 1908, tenta-se no Trindade a criação de uma Companhia Lírica inteiramente constituída por cantores portugueses que funcionou até aos primeiros meses de 1909. A sua extinção deveu-se aos elevados custos financeiros que um projecto desta dimensão implicava pois, e apesar das enchentes, os custos não eram minimamente cobertos pelas receitas de bilheteira. Após esta tentativa, apostou-se forte na exibição de cinema no Salão da Trindade, sendo de registar, em 1914, a exibição da (à época) superprodução, Quo Vadis, de Enrico Guazzoni. "

quinta-feira, novembro 29, 2007

A mini-crise de ontem à noite na CML: escalpelização de umas frases...


Ontem à noite (e, em prolongamento de jogo, hoje de manhã), a CML viveu algo parecido com uma mini-crise. Algo artificial, algo forçada. Mas viveu. Vou por partes e serei rápido:
1. Um empréstimo bancário (CGD) de 500 milhões de euros exclusivamente destinado a pagar dívidas «antigas» mereceu o voto contra do PSD (3 votos) e a abstenção de Carmona (3 votos).
2. Este empréstimo decorre do plano de saneamento financeiro aprovado há uns dias.
3. Este empréstimo está dividido em duas «tranches»: uma de 360 milhões, outra de 140 milhões. A primeira é para dívidas a fornecedores; a segunda, para dívidas em contencioso judicial: processos em que a CML pode vir a ser condenada a pagar (Sonae/Colombo, 71 milhões etc.);
4. Este empréstimo precisa agora do voto favorável na Assembleia Municipal na próxima terça-feira, onde o PSD tem a maioria absoluta.
5. Este empréstimo só é válido se Tribunal de Contas o sancionar.

Sabido isto, como ler o que disse Salter Cid (PSD, CML) ontem («Não há problema - com o voto contra do PSD na CML - a proposta foi aprovada»; e ainda: «Na Assembleia Municipal há presidentes de junta do PSD» - há: são 30 e tal) e como ler o que disseram Santana e Menezes hoje («Se isso for assim para as outras câmaras - leia-se: gaia e outras muito à rasca, do PSD - ok») ?

Ponto por ponto é assim:

Percebo Salter Cid: ele diz-nos aqui claramente que a proposta passa na Assembleia - mesmo que só a parcela dos 360 milhões. O facto de dizer que a proposta passou aponta para uma posição de força e de mera trica política, deplorável em caso tão sério.
Não percebo nem Santana nem Menezes. Ou não sabem que é o Tribunal de Contas (e não o Governo) que vai aprovar ou não o empréstimo ou estão a pôr a carroça à frente dos bois. Só depois de haver esta jurisprudência para Lisboa (que é o primeiro caso do género: plano de saneamento financeito + empréstimo), só depois é que se pode apelar para essa decisão e outras câmaras e assembleias aprovarem outros empréstimos aos quais o TC tem obrigatoriamente de dar o ok. Mas atenção: tem de tratar-se de dívidas anteriores. Não de novas despesas de plano de actividades (leia-se: campanha eleitoral para 2009).
É assim que as coisas funcionam.
O que Santana e Menezes disseram sai deste quadro, pelo que ficámos todos de boca aberta sem perceber onde querem chegar.
Sei que hoje à noite há uma reunião da direcção nacional e segunda-feira da de Lisboa para esta questão.
O PSD fez a despesa e a dívida sem controlo, como é apanágio de Santana e tal. Cabe-lhe agora assumir. O PSD tem todo o ónus desta situação em cima dos seus ombros. Disso, não tenho qualquer dúvida... Oxalá os seus eleitos na AML sejam honestos e assumam.

OUTRA VEZ

Quando é que darão descanso a Lisboa? PS e PSD têm gasto há décadas à tripa forra. Resolvam, mas poupem-nos a mais espectáculos tristes.
Se a NAER ainda tem dúvidas acerca da grafia de bem-vindo (um problema que resolve escrevendo de duas formas - começando logo pela errada!), parece não ter nenhumas no que toca à localização do Novo Aeroporto...

Carlos Carreiras apoia posição de vereadores social-democratas

In Sol Online (29/11/2007)

«O líder da distrital de Lisboa do PSD, Carlos Carreiras, considerou ontem que o empréstimo que a Câmara de Lisboa pretende contrair assenta numa aplicação errada da Lei das Finanças Locais (...)»

As suas considerações, Sr.Carlos Carreiras, limite-as a Cascais, onde já tem muito que resolver. Precisa que lhe recorde a lista de casos?

Semáforos peões


Em Espanha
(Isabel G)

COMENTÁRIO DO LEITOR RLS
Este tipo de semaforo ainda näo está implantado em todas as travessias das pequenas cidades de espanha(ex), de qq forma é de referenciar que nas zonas destas em que a pedonalidade é uma constante do ambiente urbano (quarteiröes de serviços, comércio, etc), ... os semáforos como as imagens mostram atendem por imagens bem explicitas às necessidades dos peoes de qq idade e ainda atendem aos peoes invisuais por indicador acustico. É de referenciar que a respectiva temporizaçao permite por ex. a um invisual em cadeira de rodas... saber que tem tempo... para efectuar a travessia de uma rua... A fasquia dos 22 segundos para uma rua com apenas duas faixas de rodagem parece ser uma constante (referencia??) para comparaçao é de analisar algumas temporizaçoes de semaforos em Lisboa..

quarta-feira, novembro 28, 2007

Proposta para reabilitação da casa e dos jardins de Frederico Daupiás:


Projecto levado a cabo por um grupo de entusiastas, disponível AQUI.

Para quem não saiba, Frederico Daupiás foi pioneiro da floricultura e horticultura em Lisboa, nos finais do Séc.XIX, e no terreno junto ao chafariz da Rua do Arco de São Mamede não só construiu um bonito chalé, que baptizou de Mon Repos, como abriu estufas e canteiros que passaram a fazer parte do circuito internacional do turismo da altura. Chegados aos anos 30, os herdeiros haveriam de vender a propriedade, e o dono seguinte haveria de construir um edifício em parte do jardim.

Mas, como ainda existem o chalé e grande parte do jardim; à espera que os reabilitem, este grupo decidiu-se por apresentar uma proposta à CML, com base em trabalhinho de investigação, estudo e compilação. De borla. Lisboa merece!

Foto: IPG

O que é de mais não presta

HÁ ALGUM TEMPO, ao andar num Lancia Aurelia de um primo meu, estranhei a falta de cintos-de-segurança e de retrovisores laterais e, no entanto, o carro circulava legalmente! O dono explicou-me, então, que os automóveis anteriores a uma determinada data estão dispensados de cumprir algumas exigências actuais, e, no caso desse, nem sequer havia lugar para fixar os cintos.
E já nem me lembraria de tal episódio, se não fosse o caso recente do fecho da "Ginjinha" do Largo de S. Domingos, em Lisboa, por não cumprir certos requisitos legais.
Mas não parece do senso-comum que certos estabelecimentos históricos (e a "Ginjinha" é do século XIX) têm de ser tratados e acarinhados como património da cidade? E não parece, também, do senso-comum que, embora tenham de satisfazer critérios mínimos de higiene, não se lhes pode exigir o mesmo que a um estabelecimento actual?
Ou será que os burocratas de serviço vão exigir que o castelo de Almourol e o Palácio da Pena cumpram as leis actuais de construção de edifícios... sob pena de encerramento?
Publicado no «GLOBAL» de hoje, com o título «Excesso de zelo»

terça-feira, novembro 27, 2007

Mais um episódio da novela da conduta

Como já há muito tempo não falava dela, aqui está a última aventura da já célebre conduta da Av.E.U.A, que passa por debaixo do passeio junto ao viaduto, defronte ao Quarteto. Desta vez, mal acabava de ser seco um «furo de água», logo outro se abriu, já cá em baixo, em frente da Casa de Tomar.

Os dois lados

No que diz respeito ao Novo Aeroporto de Lisboa há dois obstáculos a uma posição: a intrínseca complexidade do assunto e a brevidade da vida humana.

Protágoras de Abdera. Viveu pouco após o ano 500 a.C. e era um dos sofistas que tanto exasperava Sócrates. “Um pronto-a-confundir”, diz-se num diálogo socrático, “conhece todos os truques dos debates”. Ficou conhecido principalmente por ter dito que “o homem é a medida de todas as coisas”. Se pensarmos bem, é uma frase incompleta. Deveria ser: “para o homem, o homem é a medida de todas as coisas”.

É uma coisa extraordinária a mania de encontrar sempre um primeiro para tudo. Pois então vejam esta. Segundo a tradição, Protágoras de Abdera foi o primeiro a declarar que há sempre dois lados em cada questão. Devemos-lhe algo ao repetir diariamente essa frase.

Dois exemplos. Quando disse que “o homem é a medida de todas as coisas”, Protágoras acrescentou: “tanto das coisas que são o que são, como das coisas que não são o que não são”. Um dia esticou-se mais do que deveria e levou o raciocínio até à existência dos deuses: “no que diz respeito aos deuses, não estou em posição de saber se existem, ou se não existem; pois são muitos os obstáculos à obtenção de tal conhecimento, em particular a complexidade intrínseca do tema e a brevidade da vida humana”. Os atenienses não gostaram desta posição (e também, naturalmente, não-posição). Expulsaram Protágoras da cidade e queimaram todos os seus livros na Ágora.

***

No que diz respeito ao Novo Aeroporto de Lisboa há também dois obstáculos a uma posição. Por sinal são os mesmos: a intrínseca complexidade do assunto e a brevidade da vida humana. Tenho evitado pronunciar-me, uma vez que não sou especialista em aeroportos. No entanto, olho em torno, e o que vejo? Sou tão especialista em aeroportos como qualquer outro (e por vezes sinto-me tentado a dar o meu voto a Badajoz: desde que o aborto foi despenalizado que esta cidade espanhola perdeu o seu papel como quebra-gralho dos quebra-cabeças nacionais).

Aqui há uns tempos chegou o célebre estudo da Confederação da Indústria Portuguesa que defendia que o novo aeroporto deveria localizar-se em Alcochete. Para os adversários da Ota, este estudo é o novíssimo testamento onde todos os defeitos da Ota são lionizados e todos os defeitos de Alcochete são irrelevantes. E o mesmo vale para os defeitos dos próprios estudos. Não tem qualquer importância que o mesmo estudo que defende que toda a minha gente de Cascais, de Sintra, de Lisboa e da margem direita do Tejo atravesse o rio para chegar ao aeroporto tenha como um dos financiadores a empresa que detém o monopólio das pontes sobre esse rio. Mas é considerado muito preocupante que o governo tenha encomendado um outro estudo a uma entidade pública porque as entidades públicas estão sob, enfim, a tutela do governo.

Noticiou-se agora que um pássaro chamado Maçarico-de-Bico-Direito migra pelo estuário do Tejo em grandes bandos. Muitos viram esse facto como uma terrível manobra, quiçá dos ecologistas, para deter o progresso. Parece porém que a preocupação não é tanto com a extinção dessa espécie, mas com a segurança dos aviões. Esperemos pelo desenlace. A questão é decisiva, sobretudo como resposta a Protágoras: saber se o Homem é mais medida de todas as coisas do que, por exemplo, o Maçarico-de-Bico-Direito.


Rui Tavares

In Público

E como o relógio do Arco da Rua Augusta já está atrasado ...


Avaria para breve? Parece que o arranjo foi de pouca dura. Ou seja, o relógio está a fazer horas para entrar em greve, por tempo indeterminado. Mais à frente, na esquina da Praça Dq. Terceira, o relógio da Hora Legal meteu licença sem vencimento. Na Praça do Império, jaz uma âncora, que muito poucos conheceram como relógio-de-sol, na esperança que os tão falados milhões para aquela zona permitam arranjar um jardineiro que a reponha no seu esplendor. Todos fazendo horas, portanto.

Foto: Torres

segunda-feira, novembro 26, 2007

O MASSACRE DE LISBOA

(Fonte)

Está a decorrer uma petição para erigir um memorial às vítimas do massacre judaico de Lisboa, em 1506. A discussão na Camara Municipal de Lisboa foi adiada sine die e há que combater o esquecimento. Podem assinar aqui.

O PAINEL

É para mim o sítio mais triste da cidade de Lisboa. Quem sai dos Armazéns do Chiado e começa a subir a Rua Garrett não dá pelo painel que ornamenta a esquina da Calçada do Sacramento, a primeira à direita. Mas ele lá está, há anos, o painel da Antiga Casa José Alexandre, parece que vendia artigos domésticos, loiças, cutelaria e trens de cozinha, mas foi-se o comércio no fogo de 1988 e deixou a assinatura no ferro do Chiado.

Agora o painel é um brazão da cidade que foi, carbon copy da cidade que é, e o retrato da cidade que teremos se a deixarmos entregue aos bandidos. O painel de metal abraça a esquina, parece beijar os cotovelos da rua, e pedir clemência; continua a dizer “Antiga Loja José Alexandre Lta” a quem reconhecer o nome do antigo Chiado no silêncio, mas é difícil soletrar a assinatura de renome por debaixo do graffiti que entretanto a malta mais atrevida desenhou.

Os artistas de rua agora são uns bandidos, ou são os bandidos de rua que são artistas, já não tenho bem a certeza. Mas não basta pintar na parede, destrói-se o património, tinta sobre o painel que sobrevive da Antiga Casa José Alexandre na esquina da Garrett com a Calçada de Sacramento. Alguém contesta? Como poderia. A arte de rua não é ilegal, os fricolés pedem moedinha e atiram archotes ao ar, o cheiro intenso a querosene não inflama, eles só querem alimentar o cão ou carregar o telemóvel com mais 15 euros. De quem é a culpa?

Do outro lado da rua colam-se posters a preceito, palimpsestos anunciando concertos de bandas góticas da margem sul, peças de teatro universitário ou queima das fitas, festas de trazer por casa, modas que passaram de moda. As paredes e os passeios de Lisboa são de todos menos de Lisboa, mas ao menos são livros abertos para escárnio e mal-dizer, para se pintar ou apenas desenhar em urina, estes pequenos golpes em surdina de uma cidade livre onde as paredes e os painéis são como urinóis de Duchamps ou bigodes de Mona Lisa, nunca saberemos ver a diferença entre o lixo e o luxo, e onde fazer quando estamos aflitinhos, é uma verdadeira aflição. E entretanto a placa da José Alexandre já não tem leitura, mas sobrevive implacável à esquina a cantar o solidó, ou a canção do ceguinho, por debaixo de um grafitti virtuoso, pintado pela vergonha e a dormência da cidade, ou de quem gostaria de mandar nela.

O que fazer? Eu não mando, só mando postas de pescada. Mas cada vez que ali passo, lamento a chave de fendas que não tenho e a iniciativa que me falta para salvar o painel da miséria, da chuva miudinha e do abandono mesquinho, antes que se faça tarde e venha o Natal, ou alguém tenha uma melhor ideia, e uma chave que solte o mártir da parede. Eu gostaria de ser homem para todas as temporadas, mas tenho medo do que se esconde por detrás do painel da Antiga Casa José Alexandre, “fundada em 1823”. Sei que por detrás do painel não há nada, e o nada assusta-me tanto como a morte. Por isso é que só mencionei a parte da frente. A parte da frente tem tinta e autocolantes, mas é o painel que parece estar a mais.

Miguel Somsen
Uma crónica que vem bem a propósito do fecho da "Ginjinha", no Largo de S. Domingos:
O texto completo está disponível [aqui], no blogue onde António Barreto publica, às segundas-feiras, as suas crónicas «Retrato da Semana».

sábado, novembro 24, 2007

Sobre "O Livro Negro da Mobilidade da cidade de Lisboa": outra excelente iniciativa

A propósito do artigo que coloquei no post anterior, sinto-me confortável para poder comentar a iniciativa do PSD. Por várias razões e também por já ter caído em diversos buracos na cidade, não gostaria que os transeuntes passem pelos mesmos apuros. Já é uma boa razão, convenhamos.
Pondo de lado outros aspectos laterais como atitudes que considero pouco, vá lá, cordatas, vamos ao que interessa e o que interessa mesmo é o Livro Negro da mobilidade de Lisboa, iniciativa do PSD a ser apresentado em 2008.
Congratulo-me com esta iniciativa, até porque em 2003-04 colaborei na primeira campanha, aliás inovadora, "Vamos acabar com os pontos negros nas estradas Portuguesas" (*) que permite aos cidadãos, mediante um formulário, denunciar as deficiências na via pública e solicitar às entidades competentes a sua reparação. Desde 2005 até à presente está a decorrer a segunda campanha, em conjunto com a Deco. Desde 2003 já foram remetidas um total superior a 1250 participações e poucas foram respondidas ou solucionadas. Não me estou a recordar bem de qual o partido na presidência na CML durante estes anos, mas é uma questão de fazer as contas. Foi, de facto, uma ideia original de Manuel João Ramos (o mesmo do "agendamento de questões particulares"). Se a ideia da campanha lhe surgiu porque passou por um buraco, não sei, mas creio que não. Buracos há muitos, passadeiras mal amanhadas são às dúzias, sinais mal colocados não têm conta e, portanto, não vou por aí. Por acaso até tenho que ir pelo meio da rua porque os carros no passeio foram, com o tempo, ficando uma tradição da cidade.
Permitam-me assim, demonstrar a minha satisfação por esta iniciativa, esperando que a mesma permita resolver muitos dos problemas de mobilidade que os munícipes e os visitantes desta cidade enfrentam diariamente e pelos quais tenho dado o meu contributo para a sua resolução com o trabalho voluntário de seis anos, quase sempre de derrota em derrota.
Nota de interesses: Ao contrário do que é habitual em política onde, segundo consta, os amigos são raros, falo aqui também de estima pessoal e familiar pelo visado.
(Isabel G.)

sexta-feira, novembro 23, 2007

PSD apresenta "livro negro" da mobilidade

Lisboa: PSD apresenta «livro negro» da mobilidade
O PSD na Câmara de Lisboa vai apresentar um «livro negro» da mobilidade na cidade, com situações compiladas em colaboração com as juntas de freguesia, anunciou a vereadora Margarida Saavedra.
Este «livro negro» pretende contribuir para uma «solução geral» dos problemas de trânsito e mobilidade da capital, depois de os vereadores sociais-democratas terem criticado hoje as propostas apresentadas pelo movimento Cidadãos por Lisboa sobre esta matéria.
Os vereadores do PSD abandonaram a sala onde o executivo municipal se reuniu na altura em que foram discutidas várias propostas do vereador Manuel João Ramos sobre mobilidade.
Margarida Saavedra criticou o que considera ser o «agendamento de questões particulares» apresentadas à Câmara com «critérios televisivos de desgraças que acontecem ou de um vereador que passa por um buraco e fica aborrecido».
A vereadora considera que esse agendamento de propostas «não é justo» porque não contempla as preocupações de «cidadãos que não conseguem chegar à Câmara e particularizar o seu caso».
Segundo Margarida Saavedra, o «livro negro», que deverá estar concluído até ao início de 2008, pretende dar uma visão global dos problemas que «são mais facilmente resolúveis no âmbito geral do que caso a caso».
O vereador Manuel João Ramos esteve ausente da conferência de imprensa que se seguiu à reunião do executivo municipal mas a vereadora Helena Roseta condenou a atitude dos vereadores sociais-democratas.
«Disseram que as propostas não tinham dignidade para vir a Câmara. Estamos na Câmara para resolver as grandes questões do Município mas também para dar voz aos cidadãos», afirmou.
Diário Digital / Lusa

(ISABEL .)

INTERVIR, RENOVAR E (RE)HABITAR A CIDADE




CONVITE: INTERVIR, RENOVAR E (RE)HABITAR A CIDADE
Participação cívica e novos instrumentos no quadro da renovação urbana


Iniciando um ciclo de actividades que pretende realçar a importância da participação cívica, os Cidadãos por Lisboa, neste caso com o CIDESC, organizaram dois dias dedicados à “participação cívica e novos instrumentos no quadro da renovação urbana”, que contemplam uma Conferência/Debate e Workshop, a realizar na Fábrica do Braço de Prata (novas instalações Ler Devagar ao Poço do Bispo) nos dias 29 e 30 de Novembro.
No dia 29, com entrada livre, e participação da vereadora Helena Roseta, a conferência inicia-se às 18h00, seguindo-se um debate e visionamento do filme “As operações SAAL”, de João Dias, pelas 22h00.
No dia 30, com participação limitada a 24 pessoas, por inscrição prévia, o Workshop “Para a operacionalização de uma proposta técnica de reabilitação urbana com fins sócias”, realiza-se entre as 10h00 e as 18h00, seguindo-se a apresentação pública das conclusões dos trabalhos às 18h00.
INFORMAÇÕES e INSCRIÇÕES: ESC-RIGHTS **** geral@esc-rights.org
Telefone: 213901362
(Isabel G.)

Brinquedos perigosos à venda em várias lojas

Pois eu acho que a ASAE começa a abusar. Não separa o trigo do joio e, pior, parece estar a entrar numa escalada de vedetismo inconsequente.

In Notícias da Manhã

Erro do PS, trapalhada no BE e tiro no pé do PSD - tudo na Câmara de Lisboa

Foto: Expresso
(Aviso prévio: este é um artigo de política pura e dura, que também acho necessária. Aconselho-o a não perder tempo se isso não lhe interessa: não seja masoquista, por favor!)

Parece exagero o título que escrevi mas não é e já me vai dar razão.
.
Primeiro: o erro do PS.
António Costa garante que quem fez a lista (que toda a gente sabe que é errada) dos avençados que Costa despediu foram os directores de serviço. Estes acabariam por indicar pessoas sem dúvida abrangidas pelos critérios exactamente de não despedimento apontados pelo PS (horário, tarefa definida, hierarquia: primeira versão conhecida. Mais tarde: com mais de 3 anos de casa). Os directores indicaram tudo menos isso. Claro. O que é que o PS esperava de directores nomeados por Santana e Carmona? Eles obtiveram uma dupla vitória: correram com quem os enfrentava e lançaram o odioso para cima do PS.

Segundo: a trapalhada no BE.
Com esta coisa dos despedimentos sem critérios, quem se entala todos os dias é o Bloco. Cada um diz sua coisa, cada um ameaça à vez que rompe o acordo com o PS, e logo a seguir vem a estrutura central de Lisboa garantir o que toda a gente vê que é exactamente o que nã acontece: que está tudo bem no BE, que isso é normal e que vai tudo bem com o PS. Um partido, posições políticas variáveis só pode dar o que está a dar: trapalhada. Lamento pelo meu amigo de longa data Carlos Marques. Mas vais ter de tomar conta de mais este barco, Carlos.
Quem é que se ri com isto? O PS, já que Sá Fernandes lhe vai cair ou já caiu nos braços a custo zero e com muito lucro por enquanto. Digo por enquanto porque é notório o desencanto dos jornalistas com o apagamento progressivo da estrela mediática de Sá Fernandes que caiu demais em tão pouco tempo...

Terceiro: o PSD dá um tiro no pé.
Mas um tiro monumental. Na última sessão da CML veio prometer em público, no briefing que normalmente se segue, às sessões de porta fechada, que vai divulgar aquilo a que chamou «O Livro Negro da Mobilidade em Lisboa». Estas pessoas não pensaram bem antes de assim falarem. Dizem isto como se esquecessem que quem esteve à frente da CML nos últimos seis anos foi o PSD. Portanto, o verdadeiro título do "livro" devia ser: «O Livro Negro da acção do PSD à frente da CML em matéria de Mobilidade».
Quem se ri com isto é o PS pois com esta oposição assim do PSD pode ele bem...

quinta-feira, novembro 22, 2007

AINDA AS ELEIÇÕES INTERCALARES

"A Comissão Nacional de Eleições (CNE) decidiu instaurar processos de contra-ordenação contra vários órgãos de comunicação pela cobertura dada às 12 candidaturas nas eleições intercalares para a Câmara de Lisboa. Numa decisão divulgada, esta quinta-feira, a CNE anuncia a intenção de «instaurar processos de contra-ordenação» ao jornal 24 Horas, bem como às televisões SIC, TVI, RTP e SIC Notícias. As televisões e as rádios foram os principais alvos das críticas da Comissão Nacional de Eleições (CNE) à cobertura mediática das eleições intercalares para a Câmara de Lisboa. No entanto, acabou por não ser instaurado qualquer processo contra nenhuma das estações de rádio.Baseando-se numa monitorização feita a todos os meios pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), a CNE condena «a conduta das estações privadas de televisão, bem como da generalidade das rádios» por considerar que se verificam «desníveis na cobertura das 12 candidaturas em todo o período eleitoral».A CNE recorda que «os órgãos de comunicação social não podem dar maior relevo a umas candidaturas em detrimento das outras, com fundamento na pretensa maior valia de um candidato e na irrelevância político-eleitoral de outro». Apesar de apenas as televisões e o 24 Horas serem alvo de processos de contra-ordenação, a comissão constata que se verificou «na generalidade dos meios a existência de desníveis na cobertura das 12 candidaturas em todo o processo eleitoral», uma conduta que a CNE condena."
Fonte: Sol

A CIRCULAR E O AEROPORTO

Histórias da Carochinha, por Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado.

Quarteto, que reabra em breve!




Entre ambas as fotos distam 30 anos. O que se passou desde então para que o mercado de exibição e distribuição seja a pobreza franciscana que é actualmente?
Fotos: Mediasalles e Dias que voam

quarta-feira, novembro 21, 2007

A BANDEIRA RETIRADA

Hoje a bandeira não estava hasteada no Parque Eduardo VII. Terá ido finalmente à reparação?

AFINAL, O ZÉ EXISTE

E está feliz com a coligação. Pudera. E, afinal, faz falta. Ao PS.

terça-feira, novembro 20, 2007

«O TRIUNFO DE FEDÚNCIA DA COSTA»

Acaba de ser publicada [aqui] uma saborosa crónica de Appio Sottomayor a propósito do fecho da "Ginjinha" do Largo de S. Domingos.
Para o autor do melhor comentário (que seja feito até às 20h do próximo domingo, dia 25), o blogue SORUMBATICO oferece um prémio. Além disso, se o vencedor for leitor de «O Carmo e a Trindade» receberá um prémio adicional.

A propósito da estátua do Marquês

Fotografia de 1933

segunda-feira, novembro 19, 2007

Estátuas mutiladas (2)


Na base da estátua ao Marquês de Pombal, no grupo escultórico dedicado às suas reformas económico-administrativas, destacam-se a mulher conduzindo uma junta de bois e um homem trabalhando o vidro. Neste preciso momento, aquela conduz os bois com uma vara completamente dobrada em ângulo recto, e o outro sopra para o vácuo, pois do ferro que dantes tinha nas mãos, nem vara nem extremidade de vidro. Quando é que acabam estes vândalos?

Foto: Dias dos Reis

domingo, novembro 18, 2007

A experiência Calatrava


Há uns tempos escrevi sobre a extraordinária experiência que é frequentar a Gare do Oriente. A fotografia lá em cima é gira, não é? Foi tirada do site da União Europeia, provavelmente co-financiadora deste gigantesco cadinho de gripes e constipações.
O incauto que olhe para aquilo ficará decerto fascinado com a obra-prima de um grande arquitecto. Agora ponham esse incauto lá dentro, com chuva, frio, ruído, sem bancos para se sentar ou um café decente para se proteger.
No piso superior, junto às linhas do comboio, é impossível porque o vento traz a chuva directinha para as nossas caras, casacos e sacos que nem sequer se podem pousar em cima dos raros bancos (dois ou três) ou do chão molhado.
Temos, portanto, a única hipótese de estar no piso inferior, que felizmente não tem chuva, mas o vento traz-nos o frio de todos os lados e é estupidamente desagradável e inóspito. Entretanto, os utentes estão acotovelados na meia dúzia de bancos (modernos) que o arquitecto se dignou colocar à disposição do infeliz cidadão que olha para o visor das chegadas e partidas à espera da hora de se pirar dalí.
Para além do frio e da chuva, vendo com atenção, aquelas escadas rolantes devem ter sido concebidas para os viajantes inter-urbanos. Só quem não viaja de comboio é que não sabe que um beirão não consegue viajar sem muitos sacos. Quando digo muitos, digo grandes e pesados onde caibam as couves, as batatas e o azeite. Agora imaginem estes nossos concidadãos a descer e a subir as (estreitas) escadas rolantes com esta sacaria. Sim, porque nem só de computador à tiracolo se fazem viagens.
Acontece que há pouco tempo tive que fazer mais uma viagem e reparei numa espécie de "aquário"no piso inferior que serve de sala de espera. O envidraçado deve ser para não estragar a estética. A Expo foi em 1998 e só praticamente nove anos depois se lembram de encontrar uma solução que permita minorar o desconforto dos passageiros: a obra primeiro, os homens depois.
Este post é a propósito de quê? Do frio, claro. A notícia do dia. E de um país que também se faz para fora de Lisboa.

(Isabel G.)
*
Gare do Oriente, um caso por Francisco José Viegas

(O dia do hastear da bandeira)
Sou dos que gosto de ver bandeira portuguesa hasteada ao cimo do Parque Eduardo VII. Lembro que foi Carmona Rodrigues (justiça seja feita) que a mandou pôr lá. Foi hasteada em 12 de Setembro de 2005. O que já não gosto é de a ver esburacada. Haverá uma alminha na CML que se importe de tomar conta da ocorrência? O desleixo tem limites. Ou será que o buraco da bandeira reflecte o buraco em que a Pátria está metida?
(publicado no Tomar Partido)

A MINHA LISBOA (46)

Barracas no Vale Escuro, zona situada no final da Rua Castelo Branco Saraiva, hoje urbanizada, numa fotografia de Artur Goulart, do Arquivo Municipal.


Barracas na Av. General Roçadas, numa fotografia de Artur Goulart, do Arquivo Municipal.


Barracas do lado direito, ao pé de um carrossel, ainda na Av. General Roçadas, do lado fronteiro ao Caminho de Baixo da Penha., numa fotografia de eduardo Portugal, no Arquivo Municipal.
Um leitor não identificado mas que parece seguir as minhas entradas com atenção, informa os leitores deste blogue que perto da "minha" Lisboa havia muitas barracas, muita pobreza e muita e muita sujidade. É verdade. Havia muitas barracas, mas já não há. Algumas, ficavam na encosta entre a Avenida General Roçadas e o Alto da Eira, e eram como as da terceira fotografia a contar de cima. No local, encontram-se hoje duas horríveis torres avermelhadas, totalmente desenquadradas da paisagem urbana, feias, que são bem o símbolo da concepção de habitação social que vigorou em Portugal a seguir ao 25 de Abril: em vez de barracas, guetos de betão. Para satisfação desse militante leitor que eu tenho, comp razer aqui publico várias fotografias de barracas que existiam na zona onde moro.
Muita pobreza havia e há. A diferença essencial é que antigamente a pobreza era visível a olho nu e hoje é menos visível, mais escondida e muitas vezes envergonhada.
Já quanto à sujidade estamos exactamente na mesma. Ou seja: pior. A minha Lisboa é mais porca do que era antigamente, visto que a Camara Municipal de Lisboa deixou de lavar as ruas. Não é só a baixa pombalina, como diz António Costa, que precisa de ser desencardida. Toda a cidade está um nojo. Jorge Sampaio, João Soares, Santana Lopes e Carmona Rodrigues esqueceram-se da água e das agulhetas. Espero que a preocupação do actual Presidente da Camara seja para levar a sério.
E assim espero ter satisfeito a curiosidade do leitor.

Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada




Hoje, 18 Novembro, as organizações subscritoras da Estrada Viva – Liga Contra o Trauma celebram pela sexta vez consecutiva em Portugal o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada.
O Dia da Memória tem como espírito evocar os familiares e amigos sacrificados em acidentes de viação, como reconhecimento, pela Sociedade e pelo Estado, da necessidade de combater o trauma rodoviário.
Programa das acções realizadas no Montijo e em Évora

(Isabel G)

sábado, novembro 17, 2007

Estranha forma de vida

Há dias assim, acordar a pensar que o ruído continuado dos carros do eixo norte-sul podia ser evitado caso houvesse competência para instalar as exigidas barreiras sonoras, que os donos dos cães deviam ter à porta de casa a porcaria que deixam na rua, que fico impotente ao ver o senhor na cadeira de rodas não poder entrar no prédio barricado por carros, por reparar que aquela zona ajardinada tem oito rodas em cima das flores, que aquela passadeira nunca devia estar onde está, que o estúpido que desceu a minha rua em excesso de velocidade devia ficar sem a viatura e dá-me a impressão que este é um povo que não se estima.
(Isabel G.)

sexta-feira, novembro 16, 2007

PROCURA-SE

Fazia falta. Teve cartazes espalhados pela cidade. Vereador da edilidade. Aceitou o pelourito. En-costou. Chamaram-lhe Zé. Dão-se alvíssaras a quem der informações sobre paradeiro político.
(publicado no Tomar Partido)

A MINHA LISBOA (45)

Biblioteca Municipal, no Jardim Augusto Gil, no Largo da Graça, em 1961, numa fotografia de Armando Serôdio, do Arquivo Municipal.

A MINHA LISBOA (44)

Panorâmica de Lisboa, que inclui a encosta do Castelo, tirada do miradouro da Senhora do Monte, numa fotografia de Amadeu Ferrari, do Arquivo Municipal.

A MINHA LISBOA (43)

Fotografia de Arnaldo Madureira, do Arquivo Municipal de Lisboa. O miradouro da Senhora do Monte, onde desde sempre se respira uma paz sobre uma vista da cidade que pulsa, que mexe, que perdura nos tempos.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Estátuas mutiladas (1)



No Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, em Entrecampos, há anos a fio que o oficial retratado no conjunto alegórico da base do monumento (por detrás da figura de frente para a Av.República) está com a espada sem lâmina, ou seja, não foi nenhum oficial francês que a mutilou, mas apenas a ferrugem que a comeu. Acho que já é tempo de alguém a recuperar.




Foto: João Carvalho
Postal: mlisboa

A MINHA LISBOA (42)

Sobreiros no Miradouro da Senhora do Monte. Uma fotografia de Paulo Guedes, do Arquivo Municipal de Lisboa.

A SRU Oriental

Em apenas dois dias falou-se mais na SRU Oriental do que em toda a sua existência.

Ontem à noite, a notícia da visita da Polícia Judiciária às instalações da Sociedade de Reabilitação Urbana Oriental, fez recordar os últimos meses da anterior gestão em que as notícias de visitas da Polícia Judiciária a instalações da Câmara Municipal de Lisboa eram uma constante.

Curiosamente nunca mais se ouviu falar em resultados das investigações ou outras diligências. Talvez agora já não interesse, talvez agora já não seja necessário. Mas não é por isso que escrevo.

A notícia de ontem, com a perspectiva de apenas uma das partes era claramente parcial. E muito grave, na medida em que punha em causa a seriedade de uma pessoa sem cuidar sequer de lhe dar direito ao contraditório. Com a primeira versão da notícia, foram divulgadas muitas imprecisões e algumas falsidades.

Teresa Goulão, ex-presidente do Conselho de Administração da SRU Oriental foi alvo de suspeições e acusações veladas que posteriormente, através do esclarecimento da própria e de um comunicado da Procuradora Geral Adjunta, vieram a revelar-se infundadas. Só podia ser assim.

Conheço a Dra. Teresa Goulão e sei da sua verticalidade. As investigações que ela própria solicitou e que ontem tiveram um episódio mediático irão permitir a clarificação de tudo. Devemos esperar com serenidade.

Já hoje a câmara demitiu o administrador que restava na SRU Oriental e nomeou novo conselho de administração.

A Dra. Teresa do Passo de Sousa, actual presidente do Conselho de Administração da SRU Ocidental, foi nomeada para presidir ao mesmo órgão da SRU Oriental.

Conheço a Dra. Teresa do Passo. Acompanhei o excelente trabalho que desenvolveu na SRU Ocidental que espero venha a ser aplicado na respectiva zona de intervenção (Ajuda e Belém). Estou certo que o seu desempenho nas novas funções será a confirmação da sua dedicação, profissionalismo e competência. Assim tenha as condições necessárias.


António Prôa



(texto também publicado no blog "Cidadania Lx")

quarta-feira, novembro 14, 2007

Dia 18 de Novembro -Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada

*
*
Celebrações em Portugal (Anos anteriores: ver campanhas)
(Isabel G.)
Amsterdão - silo gigante para bicicletas em frente à estação de comboios
(Isabel G.)

REGRESSO ÀS ORIGENS

(É preciso que o cavalo não vá além do trote...)

Lentamente tenho retomado as minhas obrigações quotidianas, após período de férias forçadas. Uma das que ainda continuavam por retomar era justamente a minha participação neste admirável e tão plural blogue. Ao dar uma vista de olhos pela jornalada entretanto publicada, deparei-me com esta pérola. T-R-I-N-T-A. Discordo do limite de trinta quilómetros hora, para eventual surpresa dos meus críticos relativamente às minhas observações sobre os radares de Lisboa. Sim, discordo. Proponho que nessas zonas se regresse aos tempos da carroça. Sempre é mais rústico, embora exija reforço do já de si depauperado pessoal de limpeza camarário, dada a inflação de bosta cavalar e burral que este regresso às origens não deixaria de comportar. Com o preço a que estão os combustíveis era até uma medida economicamente sadia para o bolso desses bombos da festa fiscais que são os automobilistas.

(publicado no Tomar Partido)

terça-feira, novembro 13, 2007

CALCETEIROS MARÍTIMOS E OUTROS

No outro dia, descobri um livro precioso entre os restos da biblioteca de um familiar desaparecido. Chama-se Profissões Típicas de Lisboa e fala de aguadeiros, carregadores, amola-tesouras, correeiros e outras actividades que a marcha da economia, as alterações no comércio, a sofisticação do trabalho, a evolução da tecnologia e o crescimento da cidade reduziram a curiosidades de museu, a memórias castiças, a ilustrações em livros velhos.

Ou quase. A verdade é que ainda há profissões dos tempos antigos, ocupações artesanais, que sobrevivem em Lisboa, embora muito pouca gente repare nisso, por culpa da aceleração do ritmo de vida. É que essas actividades que se conservaram de outras eras estão associadas a uma aparente e enganadora inacção.

Os calceteiros marítimos, por exemplo, continuam a abundar em Lisboa. Sozinhos ou em grupo, podem ser encontrados à porta de tascas, cafés, pastelarias e pequenos comércios e lojas, esperando por um dia de absoluta calmaria em que o Tejo esteja, como se diz em jargão de surfista, totalmente flat, para poderem exercer a sua actividade. Como isto quase nunca sucede, os calceteiros marítimos costumam ser confundidos, injustamente, com os muitos calões e madraços que infestam a capital.

Há ainda os polidores de esquinas, cuja função é manterem as ditas dos prédios em bom estado e a reluzir, para o regalo dos concidadãos e o encanto dos turistas. É vê-los logo de manhã, encostados aos seus postos de trabalho por toda a cidade, desde os bairros tradicionais às zonas mais modernas, gastando os fundilhos das calças e as costas das camisas, dos casacos e dos blusões por uma Lisboa com muito polimento, mas quantas vezes incompreendidos pelos alfacinhas, que os tomam por mandriões retintos ou rueiros descarados.

Há que não esquecer os segura-prédios. Estes diferem dos polidores de esquinas no facto de passarem o tempo encostados não às esquinas, mas às paredes dos próprios prédios, em missão de prevenção e antecipação de uma qualquer falha nas suas estruturas, quando não mesmo de uma comoção sísmica. Mesmo assim, ainda há quem pense que estes dedicados trabalhadores não passam de calaceiros de marca maior.

Falta ainda falar nos guarda-sombras. A sua função, desenvolvida maioritariamente nos meses mais suaves da Primavera e nos de canícula do Verão, consiste em tomar conta de todo o tipo de sombras urbanas, desde as das árvores das ruas até às dos bancos dos jardins, e mesmo as que são projectadas pelos edifícios, para que possam ser usufruídas pelas crianças, pelos idosos e reformados, por senhoras grávidas e visitantes estrangeiros.

Pois estes profissionais que se entregam com grande devoção ao seu trabalho - é ver as horas a fio que passam a cuidar das sombras - são as mais das vezes classificados de indolentes do piorio, de grandessísimos parasitas.

É triste que a cidade desconsidere desta forma actividades tão típicas, tão ancestrais e sobretudo tão genuinamente artesanais como estas.

Eurico de Barros

In DN

Sinalização no parque dos museus



(Amsterdão 3 de Novembro 07) -Isabel G

segunda-feira, novembro 12, 2007

A "troupe" dos estudiosos


«Expresso» de 10 Nov 07

MUITO SE TEM FALADO, ultimamente, dos desastres e dos crimes rodoviários, a que quase todos continuam a chamar "acidentes" - uma designação tonta e desculpabilizadora, pois o que se passa nas nossas estradas e ruas pouco ou nada tem de "acidental".
Entretanto, de que é que se está à espera para internar os condutores loucos e com tendências suicidas? E para meter na cadeia os assassinos? E para explicar aos peões que a sua segurança também depende de si?
Mas isto são desabafos, meras perguntas retóricas. Para que fossem mais do que isso, seria preciso, primeiro, empandeirar a caterva de pândegos que, ano após ano, quando confrontados com as suas (ir)responsabilidades, mais não sabem dizer do que "o assunto está a ser estudado"...

domingo, novembro 11, 2007

UM DIA POR LISBOA LISBOA, TEJO E TUDO – O que fazer e não fazer com a Frente Ribeirinha de Lisboa
12 NOV - Segunda, das 18h00 às 24h00
Jardim de Inverno -Teatro S. Luiz

Numa iniciativa do grupo “Um dia Por Lisboa”, no dia 12 de Novembro, das 18h00 às 24h00, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, estarão presentes várias personalidades, especialistas e opinion makers, que vão intervir sobre os seguintes temas:

1. Tejo – usos do Rio e das suas margens
2. A Margem Ribeirinha, Planos e Projectos
3. A Administração da Frente de Rio

O cidadãos residentes e utentes de Lisboa, além de serem convidados a estar presentes, terão também um papel activo nesta discussão, nos “Speakers Corner”, cabines com sistema de gravação, onde poderão deixar os seus depoimentos e opiniões sobre os temas em discussão. Os depoimentos de especialistas e de cidadãos serão posteriormente tratados, sistematizados e divulgados. Poderão também ser vistos na PF tv (http://pftv.sapo.pt/).

PROGRAMA
Das 18h às 21h00- Intervenções de:
António Câmara, Nuno Portas, Gonçalo Ribeiro Telles, Raquel Henriques da Silva, Nuno Teotónio Pereira, Jorge Gaspar, Augusto Mateus, Paulo Saragoça da Matta, José António Pinto Ribeiro, entre outros.
21h30 – Debate com os responsáveis decisores da zona ribeirinha e da cidade de Lisboa:
Presidente da CML António Costa (a confirmar), Manuel Salgado, Vereador do Planeamento Urbano da CML, Manuel Frasquilho - APL, Fonseca Ferreira -CCDR de Lisboa, José Miguel Júdice e Rolando Borges Martins - Parque Expo.
ENTRADA LIVRE
(Isabel G)

sábado, novembro 10, 2007

ZONAS 30

6 perguntas a ... João Dias (professor no Instituto Superior Técnico): Velocidade máxima nas zonas residenciais deveria ser de 30 km
(...)
Quais são hoje os principais problemas da sinistralidade urbana?
Em Lisboa, o problema maior é a sinistralidade pedonal e a seguir a dos veículos de duas rodas. Lisboa é uma cidade cosmopolita. Há uma grande circulação de peões e, aliada a isso, a indisciplina destes, que atravessam em qualquer lado, com o vermelho e fora dos locais apropriados. Por outro lado, temos também a velocidade dos veículos dentro das localidades. E há que a actuar nestes dois níveis.
Como?
Sou defensor do limite de 30 km/h dentro da cidade e em zonas residenciais, naquelas vias que não são de circulação de tráfego. Isso permitiria reduzir drasticamente o risco. Mas tem de haver mais fiscalização. Porque uma coisa é haver um limite outra é respeitá-lo. A solução tem que ir pelas vias da penalização e da educação. Só uma não chega.
(...)
Como é que as leis da física são um apoio à investigação dos acidentes mais graves.
As leis da física estão na base da determinação das condições em que ocorrem os acidentes. São elas que me dão informação sobre se um peão atravessou na passadeira, através da forma como foi projectado e das lesões com que ficou. E isso é muito importante. As pessoas costumam dizer que há só uma maneira de ser apanhado em excesso de velocidade: por um radar da polícia. Eu digo que há outra: através da física. Se o veículo vai a determinada velocidade, tem determinada energia cinética e esta é dissipada de várias maneiras, por rastos de travagem, por exemplo, quando se envolve num acidente.
Entrevista publicada no Diário de Notícias de hoje.
Extenso dossier sobre investigação, critérios aplicados na avaliação estatística da mortalidade rodoviária, etc., no DN.
(Isabel G.-fotografia: Amsterdão 3 de Novembro 2007)
*
Comentário de um leitor:
"Zonas 30" são uma solução adequada para os chamados espaços semi-pedonais, onde convivem indistintamente peões e automóveis, como numa passadeira, e onde igualmente a PRIORIDADE PERTENCE AO PEÃO.
Pergunte-se então aos senhores deputados por que é que, AO CONTRÁRIO DOS PAÍSES EUROPEUS mais desenvolvidos, em Portugal não foi acolhida, nas últimas REVISÕES DO CÓDIGO DA ESTRADA, a proposta de regulamentação desses espaços viários.
Em consequência, torna-se extremamente difícil encontrar sinalização adequada para os pôr em prática sem cometer nenhuma ilegalidade.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Um problema tipicamente português

Leonel Moura
Jornal de Negócios

De tantos males que afectam Portugal, há pelo menos um que não se pode desculpar com o preço do petróleo, os burocratas da Europa, a mão-de-obra chinesa ou qualquer outro factor externo. Trata-se de uma questão da nossa exclusiva responsabilidade e que só nós próprios podemos resolver.

Refiro a loucura que continua a afectar o comportamento lusitano ao volante e que dia após dia destrói vidas e fornece a matéria sinistra de que se faz grande parte dos telejornais.

Sobre o assunto já muito foi dito e redito. Nas mãos dos portugueses, o automóvel, que devia servir para nos levar confortavelmente de um lugar para outro, parece ter todos os fins menos esse. Nele se canalizam frustrações, raivas sociais e perversidades marialvas. Nele se revela um generalizado desprezo pelas regras mínimas da vida em comunidade. Usado para mostrar estatuto, poder e alguma forma de superioridade económica ou de adrenalina, o carro está entre nós mais perto de uma arma do que de um veículo de transporte. O hábito e uma espécie particular de corrupção cultural determinam que se ache natural acelerar, fazer manobras perigosas e insultar os outros condutores.

Anos a fio não se fez praticamente nada contra este flagelo. As milhentas campanhas de prevenção rodoviária, em que se gastaram e continuam a gastar rios de dinheiro na pretensão cândida de educar os indígenas, nunca dão qualquer resultado. O que não admira. As ideias são invariavelmente péssimas e o recurso a bonecada infantil e outras parvoíces é sistemático. Foi com Armando Vara, com a tolerância zero, que pela primeira vez se encarou a questão a sério. Mas o destino ingrato deste político conduziu a uma desvalorização da iniciativa e assim que ele deixou o Governo logo a tolerância voltou a ter expressão numérica. E continua. Ainda recentemente um juiz do Norte mandou para casa praticamente sem castigo um condutor de ambulância, apanhado com uma taxa de álcool superior à legal, com o argumento de que naquela região se bebe mais vinho do que nas outras. Para este juiz, este facto “atenuante” superou em muito o que deviam ter sido as agravantes de se tratar da condução de uma ambulância e ainda por cima em serviço de transporte de um doente.

Há que reconhecer contudo que nestes últimos anos o aumento do valor das multas, uma maior presença policial nas estradas e o uso de tecnologias têm demonstrado ser capaz de diminuir ligeiramente acidentes e valores estatísticos. Mas mesmo assim não basta. Os recentes desastres e atropelamentos são reveladores de que a chacina persiste.

Sou por convicção libertário e anti-autoritarismo. Do mesmo modo, não vejo a criminalização como solução para nenhum problema. Mas não posso deixar de considerar que em matéria de segurança rodoviária só temos duas vias: a educação e a repressão. A primeira é lenta, a segunda é rápida. E neste caso, porque se trata de salvar vidas, temos pressa, muita pressa.

É por isso que ao contrário de muitos que criticam o uso de radares, ainda para mais regulados para velocidades consideradas demasiado baixas, as legais diga-se de passagem, julgo que eles deviam ser ainda mais generalizados e se possível dissimulados e sem aviso. Hoje assiste-se a uma patética dança em que toda a gente trava à vista do radar, para logo de seguida voltar a acelerar com uma ainda maior raiva e tenacidade. Já para não falar do emergente mercado de esquemas para enganar o olho dos sensores e a profusão de sites na Internet sobre tão magna matéria. Valha-nos o facto de muitos deles serem um perfeito disparate e resultarem em merecida multa.

Mas mais decisivo do que as novas técnicas de detecção do excesso de velocidade seria a mudança de mentalidades da própria força policial. A permissividade mantém-se como atitude geral e enraizada. Exceptuando talvez o caso do estacionamento indevido nalgumas zonas de Lisboa, a má condução é ainda largamente desculpabilizada e sem consequências.

A título de exemplo e reportando-me a um caso recente sucedido no Terreiro do Paço, não se entende como é que uma condutora que atropela três peões numa passadeira e mata dois é simplesmente mandada para casa e até ao momento, passados vários dias, nem sequer foi interrogada pela Polícia.

Educação, campanhas de sensibilização e apelos ao civismo já mostraram não resolver o problema. Os portugueses continuam a matar-se estupidamente por esse país fora. As desculpas das más condições das estradas, da efectiva insânia da sinalética e outras por mais genuínas que sejam, não legitimam tantos acidentes, na sua grande maioria causados por excesso de velocidade, condução perigosa e álcool. Resta-nos portanto, mesmo a contragosto, a repressão. O que não significa necessariamente só mais e maiores multas. Condenações de serviço cívico, a cassação definitiva da carta e a apreensão do automóvel deviam tornar-se comuns para certas infracções. É preciso começar a retirar das nossas estradas aquelas pessoas que objectivamente demonstram não ter capacidade, cívica ou ética, para conduzir.

«Carlos Carreiras é o novo líder dos sociais-democratas lisboetas»


Fijate, HLC!

Fonte: Sol Online
Foto: DN

quinta-feira, novembro 08, 2007

Relojoeiros?

Para substituir a correia de um relógio que muito prezo, voltei a uma conhecida cadeia de relojoeiros (?), boutique, do Centro Comercial do Chiado, onde não ia (sabiamente) há alguns anos. Escolhida a bracelete mais parecida com a original, que estava rasgada, eis que a moça de serviço não consegue colocá-la porque não conseguia abrir uma das molas do relógio, que estava «colada», dizia ela. Bom, fez pacotinho e deu-me cópia de nota encomenda: o relógio ia para o relojoeiro, que ele iria conseguir abrir a mola calcificada. Passados 10 dias (!) lá recebi recado: podia ir buscar o meu relógio, que estava pronto.

A moça virou moço e desta vez, a coisa começou mal logo de início: ninguém encontrava o relógio. Armários abertos, prateleiras inspeccionadas, idas e vindas do gabinete privado: nada. Só à segunda tentativa e, simples, estava tudo mesmo à sua frente. Sorrisos. Mostra-me o relógio, coloco-o no pulso e, zás, fecho não funciona e correia parece feita de papel. «Ah, a minha colega deve-se ter enganado e colocou o fecho ao contrário. Eu resolvo isso». E «resolveu». Volto a experimentar e, zás, fecho vira de plástico e torcido.

Negócio por água abaixo: «Importa-se de me fazer o favor de tirar essa correia e me devolver o relógio? Vou levá-lo de volta, paciência», disse-lhe. Atónito, disse que sim e imediatamente lhe tirou a correia e o colocou dentro de um pacotinho, imagine-se, sem colocar as molas na coroa. «Olhe, esqueceu-se das molas, importa-se de as colocar?». Tentou, tentou. Chegou a colega, e tentaram, tentaram. Nada. Desta vez era ao contrário. Eram as molas que não conseguiam encaixar na coroa ...

Peguei no relógio e nas duas molas e coloquei-os no bolso do casaco. «Deixem estar, disse-lhes, devem estar coladas».

Este cartaz, perdão, outdoor, da JS acaba de ser colocado no martirizado cruzamento de Entrecampos, onde já não havia um cartaz afixado há «demasiado» tempo. Eu ficaria mais satisfeito se o 1% que não vai aprender inglês, ficasse a saber português e o que significa poluição visual.

quarta-feira, novembro 07, 2007

A SANTIDADE DOS PATRIOTAS

Fiquei grandemente enternecido com o estremecimento patriótico que tem percorrido alguns bondosos agrupamentos financeiros, logo-assim ressurgiu a ideia de construção do novo aeroporto de Lisboa. Atreita a descobrir razões e motivos para aplaudir ou excomungar, a sociedade portuguesa vai tomando confuso partido por um ou por outro dos desinteressados grupos. Acentuemos a nobreza dos pensamentos e a clara distinção dos discursos: tanto os que defendem a Ota como os que pleiteiam a causa de Alcochete são desvelados patriotas e absolutamente alheios ao feio sentimento da ganância. No remanso agasalhante dos seus gabinetes esses homens consomem as meninges, arregimentam olheiras, arquejam de cansaço - apenas com o desígnio exaltante de se sacrificar pela pátria bem-amada.

Preocupa-os a depressão que nos assola, a nós, arraia-miúda; martiriza-os a desdita do nosso destino, a deterioração da nossa qualidade de vida. Arejam os crânios com pensamentos alevantados, caucionados pelos juízos simples e pelas consciências rectas.

Pouco se sabe quem são. Dar outros nomes aos nomes apenas significa modéstia, discrição, orgulho pátrio. Ambos os grupos já gastaram rios de dinheiro em planos, estudos, esboços, gráficos, monografias, análises, testemunhos, depoimentos, exames, investigações. Desinteressadamente, como se sabe. Ambos os intervenientes concla- mam: a minha proposta é melhor do que a tua. Ambos os intervenientes afirmam-se eivados de santas razões e de imaculados propósitos. São impulsionados pelo mesmo ímpeto venturoso que acumulou glórias e saudáveis episódios abençoados por todas as Virgens conhecidas.

A melodia dos desinteressados toca os corações desprevenidos. Quando se soube que o Governo pendia para a Ota, indiscutível e inexoravelmente, a especulação imobiliária foi desencadeada. Mário Lino, dramático e seguro, levemente irado, abertamente decisivo, transformou o jamais francês no estandarte de todas as vitórias. Quando foi apresentada a proposta de Alcochete, argumentativamente muito mais económica, os protestos e os apupos chegaram de alguns pontos cardiais. Mário Lino, calmo como um ser isento de maus costumes, ainda não leu o documento da CIP, diz que vai ler; ao que parece, ninguém o leu ainda. A santidade dos indomáveis patriotas da Ota e de Alcochete, a devoção inextinguível da sua entrega, o piedoso ardor dos seus discursos, a profundidade da sua filantropia, o penoso fardo que transportam - comovem até às lágrimas.

Nunca lhes agradeceremos bastante o grande consolo que nos têm ministrado, com a galante vontade de nos servir a todos. Eles, coitados!, não querem nada. Entre a Ota e Alcochete, venha o LNEC e escolha.

Baptista-Bastos

in DN
PROGRAMA DO CICLO DE CONFERÊNCIAS MEMÓRIA E VALOR:
PATRIMÓNIOS HÁ MUITOS


A Secção Profissional de Estudos do Património da Sociedade de Geografia de Lisboa convida para a próxima conferência
“Os Valores da Memória: A Arquitectura Morreu?”
por José Duarte Gorjão Jorge, Pedro Abreu e Jorge Nunes

No próximo 13 de Novembro às 18:00
Na sede de Sociedade de Geografia de Lisboa
(Rua das Portas de Santo Antão, 100)
http://pwp.netcabo.pt/património.sgl/
(Isabel G)

terça-feira, novembro 06, 2007

Mais episódios da novela «conduta da Av.E.U.A.»

Pois é, cá vai mais um episódio de uma novela que temo seja estafante para que nos lê. Desta vez a coisa abriu buracos em três locais diferentes: na calçada imediatamente a seguir ao primeiro prédio que está a seguir ao Quarteto; outro buraco na calçada junto aos vidrões e, finalmente, um buracão junto ao quiosque de jornais, defronte à Granfina. Este último teve direito a charco para pombos e tudo.

Ontem já estava tudo seco, salvo o buraquinho junto aos vidrões, que já inundou um dos canteiros de relva, e todos os dias verte água.

segunda-feira, novembro 05, 2007






05.11.2007 - 18h33 Lusa, PUBLICO.PT
(ISABEL G)


Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”
Chico Buarque de Holanda


FRENTE À ESTAÇÃO FLUVIAL do Terreiro do Paço, deu-se há três dias um atropelamento trágico e revoltante.
Três pessoas foram varridas por uma automobilista que fazia o que muitos outros fazem, todos os dias, em muitos locais de Lisboa: circulava em excesso de velocidade. Aparentemente, não acusava álcool no sangue, nem traço de drogas. O carro descontrolou-se, porque talvez ela se tenha distraído por um momento: acendia um cigarro, ligava o rádio, mudava o CD. Ou talvez viesse simplesmente a falar ao telemóvel. Como muitos outros automobilistas fazem. Todos os dias.
As três vítimas – Filipa, Neuza e Rufina – estavam no local errado, à hora errada? Sim, porque o local está todo errado, e porque a hora era a do fim do divertimento de uns e do princípio do trabalho para outros. O lusco-fusco...
Aqui – de forma brutal e chocante – confrontaram-se porventura dois Portugais: o dos automóveis e das vias rápidas, do conforto e dos sonhos das frentes ribeirinhas e dos divertimentos nocturnos; e o dos trabalhadores desprotegidos que, em silêncio humilde, calcorreiam as ruas, usam os transportes públicos, e procuram sobreviver numa cidade que os ignora, hostiliza, espezinha.
Há uma quarta vítima – aquela que é simultaneamente a autora material do homicídio. A automobilista. A tal que fazia aquilo que muitos – muitos, mesmo – fazem todos os dias. Circulava em excesso de velocidade. Vinha por uma via rápida, a Av. Infante Dom Henrique, que repentinamente se transforma – neste local – em lugar pitoresco, histórico, patrimonial, e, também, espaço de passagem da massa anónima que vem da outra margem do rio limpar os escritórios afluentes da Avenida da Liberdade.
A cidade dos carros burgueses e das vias rápidas está separada por um véu da Lisboa dos peões pobres e das ruas perigosas. Por vezes esse véu rompe-se, e os mundos encontram-se. E quando se encontram, é frequente que o resultado seja a violação dos direitos mais fundamentais dos cidadãos que andam a pé: o direito à segurança, o direito à dignidade, e o direito à vida.
A tragédia que ali ocorreu foi, afinal, apenas mais um rompimento desse véu. Como o vereador do trânsito da Câmara de Lisboa lembrou já, o véu vai ser reparado, e tudo será como dantes – com mais umas lombas, mais uns segundos nos semáforos, mais um lancil e uns metros de calçada.
A tragédia maior que nos afecta a todos, e não apenas às vítimas directas, é termos olhado para o horror desta segregação, e para a nossa fragilidade fundamental de seres humanos quando não estamos protegidos por uma armadura automóvel.
Uma familiar das vítimas desfaleceu quando viu os corpos desmembrados; a autora material do crime ficou em estado de choque. Mas há um parceiro silencioso neste crime: é aquele que achou que este local fazia sentido, que não está errado, e que, por omissão, criou as condições do homicídio.
O parceiro silencioso deste crime licenciou espaços de diversão nocturnos e fez com que uma via rápida ribeirinha desembocasse nas obras mais vergonhosas do regime, e numa das passadeiras mais tenebrosas de Portugal. Deixou que o pavimento de alcatrão se deformasse, criou um falso refúgio de peões a meio de uma curva perigosa. E ficou à espera de que alguém caísse na armadilha.
Ficará de novo impune o parceiro silencioso deste crime?
(Isabel G)
Acidente no Terreiro do Paço (VIDEO AQUI)
SIC

Herança Gabriela Seara (4)


A coisa já não é nova, mas nunca foi levada muito a sério, até porque muito boa gente acha, simplesmente, que o projecto é tão mau, tão mau que dificilmente irá em frente. Isto apesar do artigo do Expresso do passado fim-de-semana. Parece que a coisa já vem do tempo da Srª Napoleão, mas que foi com o executivo anterior que terá sido aprovada, preto no branco (é caso para dizer que, afinal, sempre é possível passar de mau a péssimo...).

Seja como for, muita tinta ainda irá correr, e acho que nem o facto da Somague estar envolvida no processo, nem o facto dos arquitectos serem de nomeada, nem isso evitará que o projecto seja indeferido ... pelos lisboetas, se for caso disso.

Trata-se de um edifício que ficará muito bem ao lado do mono da ex-Império, mas que será a machadada final no Largo do Rato. Atenta contra a escala do local. É um pesadelo em termos estéticos, pois chocaria com o Palácio Palmela e com o chafariz, e é sintomático que tenha sido «esquecido» pelo famigerado PUALZE, que, como se vê, não serve para nada. A ver vamos as cenas dos próximos capítulos.