terça-feira, junho 19, 2007

Preso por ter Ota, preso por não ter...


Nota
Na gravura falta Alcochete/Benavente

... Onde se demonstra que foi Lisboa mas não só que determinou esta mudança táctica... do Governo em relação ao aeroporto

Lá para o Natal, depois da Presidência Europeia, o jogo recomeça


Quando, daqui a uns sete a nove meses, o Governo decidir em definitivo continuar de vez com o processo de construção da Ota, eis o beco sem saída a que está sujeito – com destaque para Sócrates e para Mário Lino (Sócrates, agora, depois de se ter imiscuído no processo, junto da CIP, como já é público, nunca mais se vê livre desta polémica e das suas consequências):
- supondo que decidiam avançar para Alcochete, haveria meio mundo a deitar-lhes à cara o seu elevado nível de teimosia antes da semana passada;
- supondo que decidiam enveredar pelo modelo chamado Portela + 1, haveria pelo menos sete agrupamentos políticos a assacar-lhes a responsabilidade de se ter estado perante o risco de encerrar a Portela que afinal servia muito bem o País e a Cidade;
- supondo que avançam para a Ota – como vai acontecer –, há pelo menos três ataques de que não se livram:
a) esta encenação foi só para ganhar tempo a dois carrinhos: Presidência Europeia e
b) eleições para a Câmara de Lisboa;
c) esta encenação foi falsa, faz perder tempo e dinheiro ao País e afinal o Governo mentiu quando disse que ia analisar os estudos (ainda há-de haver muito elogio ao LNEC e à Universidade de Aveiro, por conta do facto de o Governo a esse tempo já ter rasgado os seus estudos).
É uma espécie de aplicação daquele aforismo popular: «Preso por ter cão, peso por não ter». Neste caso: ter Ota.
Não sei se era possível que as coisas acontecessem de modo diferente. Mas sei que o Governo, Sócrates e Mário Lino têm andado mesmo a pedi-las: puseram-se mesmo a jeito.
A coisa desenrola-se em cinco ou seis episódios, como se sabe, e convém recordar cada um deles:
1) Durante meses, Sócrates, o Governo e Mário Lino repetem por todo o lado que não há outra hipótese: o País precisa e vai ter um aeroporto e é já e será num único local possível: Ota.
2) Algumas entidades andam meses a divulgar outras hipóteses e a divulgar os impactos negativos da Ota (vários editores de blogs aderiram; eu fui um deles).
3) Mas um dia cavaco Silva vem com meia frase pôr em causa esse dogmatismo.
4) No dia seguinte, ou lá perto, António Costa aparece na corrida à CML e desata toda a gente a apertar com ele sobre a Portela. A coisa tornou-se insuportável.
5) Mas em poucas horas, tudo se resolve: eis a salvação: a CIP vem dizer numa sexta que na segunda entrega um estudo a Sócrates (sabe-se hoje que esse estudo fora combinado com Sócrates em Março/Abril, altura em que a CML ainda não tinha caído – o que sucederá depois de 20 de Maio – e em que António Costa nem pensava na candidatura. Portanto, Sócrates nessa altura quis preparar o aligeiramento da pressão sobre si durante a Presidência Europeia).
6) Começa depois o delírio: num dia se diz que nem pensar, noutro se diz que venham todos os estudos; num dia se diz que Portela + 1 nem pensar, noutro se diz que sim, venham todos os estudos que serão analisados. Etc..

O jogo foi baralhado. Só falta dar de novo. Lá para o Natal, o jogo recomeça.

4 comentários:

MP disse...

Bem verdade, depois de passar a "quadra natalícia europeia", voltará o "folclore a partir do ponto onde parou"!

Anónimo disse...

(...) sobre este assunto - que inclui a conhecida obsessão pela teoria da conspiração - apetece-me recordar os comentários de António Vitorino... desta semana!

Não há dúvida que, e por mais que isso nos surpreenda, Alcochete aparece(u) como 'a carta que não estava no baralho', um trunfo invencível e que a hipótese da Portela + 1 acabará por ser uma realidade, embora transitória, seja qual for a opção final... atendendo ao simples facto do horizonte temporal, à demora dos trabalhos e à necessidade de faseamento/adaptação ao tráfego!

Isto é, os Lisboetas vão continuar a assistir a 'remakes' de um 9/11 (!) a um bizarro e sistemático sobrevoo de 'titanics', para estupefacção dos turistas!?

Negar a mudança a longo prazo e persistir nesta solução será equivalente à 'escalada de loucura' que subjaz à constatação de que temos um hospital psiquiátrico, justamente, no alinhamento ou arranque de uma pista (principal?), naquele que deve ser o local mais ruídoso de Lisboa - e, ao que parece, mais poluído, pois é onde(!?)também se incineram os lixos perigosos do país!

É claro que o aeroporto terá de sair, a médio-longo prazo e que tudo aponta para um volte-face, para a opção de Alcochete...à beira do tal deserto ;) porque a divulgação e envolvimento público já não dá margens para uma decisão...menos boa, digamos assim... n'est-ce pas?
AB

odete pinto disse...

No blogue O Jumento encontrei este comentário que aqui divulgo por abordar a questão pelos bastidores:

"nanda disse...
Apontamentos de quem trabalha todos os dias no Aerporto da Portela:
Declaração de interesses:
Não estou no poleiro. Não ganharei nada com os negócios paralelos. Moro na Portela , perderei até com a distância.

Dito isto garanto que é preciso um novo aeroporto para servir Lisboa. Este está a estrangular o país.
Para quem não sabe, ou não quer saber, os aviões que aterram e descolam transportam passageiros, bagagem, carga e correio.
De passageiros já há muito quem fale. Não não vou falar de passageiros. Vou falar daquilo que conheço.

O Terminal de Carga de Lisboa é uma das vergonhas deste país.
Está localizado num antigo Hangar, construído para albergar os antigos “caravelas”. Conheço-o desde os anos 70. Está na mesma. No verão a temperatura já atingiu os 50ºC. Ninguém parou de trabalhar. Não tem cais de acostagem. Os camiões que chegam não tem espaço para manobrar. Por falta de espaço, há camiões que chegam a ficar 12 horas à espera para descarregar. (Entretanto o avião parte).
Os acessos à Importação e Exportação são os mesmos e exíguos.
Os frigoríficos permanecem os mesmos de há 30 anos. Não há espaço para os acrescentar. E o que me dói mais é constatar que por falta de condições de FRIO, muitas toneladas foram já desviadas para Madrid, que tem um “Perishable Center” de sonho.
A área de paletização é ridícula. Os trabalhadores fazem milagres todos os dias.
Pensarão: O país não exporta, para quê um Terminal de Carga maior e com mais condições. O país vai exportando. A carga aérea é uma infíma parte, mas não negligenciável. E o país importa. E pelo aeroporto de Lisboa passam muitas toneladas diárias de carga em trânsito. Vem da Europa, há alguns meses até já em aviões cargueiros regulares, para o Brasil e África. Vem do Brasil para a Europa e Àfrica. E dos EUA para Àfrica.
Aqueles que dizem que Lisboa nunca será um HUBBE -ouvi ontem num debate da Nacão na RTP – são só ignorantes. Lisboa hoje já o é. Os que preferem a opção 2 aeroportos - o 2º para carga e low costs - asneiram de novo. Já imaginaram a logística e o tempo de trânsito que implicaria trazer de camião a carga descarregada dos cargueiros e trazê-la para a Portela para embarque nos aviões de longo curso para Luanda, Joannesburgo, Maputo, São Paulo, Rio etc. Já imaginaram o que seria transportar de camião a fruta, o peixe, os sapatos etc... chegados do Brasil da Portela para o 2º novo aeroporto? Era o fim dos trânsitos em Lisboa.

E só para infomação geral informo que 70% da carga que a TAP transporta neste momento é carga em trânsito por Lisboa.

Posto isto, construam o novo aerporto rápidamente, decida onde Sr Marques Mendes, se não na OTA , diga onde. Se não o disser, o vai dizendo, não passa de demagocia."

Anónimo disse...

Não posso deixar de notar que as distâncias estão bem aldrabadas.
Segundo o ViaMichelinsao 52km de Lisboa à OTA e 51km até ao Poceirão