quarta-feira, março 21, 2007

POESIA

E de novo, Lisboa...


E de novo, Lisboa, te remancho,
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho,
ou o outro vermelho que te molha.


Sangue na serradura ou na calçada,
que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada,
cerceado do coração que foi.


Groselha, na esplanada, bebe a velha,
e um cartaz, da parede, nos convida
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida; mas que vida?


Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
na terra onde nasceste e eu nasci?


Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981
Biblioteca de Autores Portugueses
Imprensa Nacional Casa da Moeda

1 comentário:

Anónimo disse...

Que diria O'Neill se este blog, para atraír o turistame, mudasse o nome para Charm and Trinity?