sexta-feira, março 16, 2007

ESTILO

No último fim de semana, a Moda Lisboa convidou um caça-tendências internacional, Ivan Rodic, para conhecer o evento e visitar a cidade de Lisboa à procura de “pessoas com estilo”. Como referiu o jornal Público, o caça-tendências saiu de mãos a abanar e o rabo entre as pernas: não encontrou ninguém com estilo e estilistas em ninguém. O facto de ter começado na Moda LX já foi uma falsa partida: a Moda LX é onde as pessoas que pensam que têm estilo vêm à procura de referências. O caça-tendências Ivan Rodic, de óculos grandes sem lentes, ainda passeou pelo Bairro Alto e a Baixa, mas saiu decepcionado. Uma das cidades mais carismáticas da Europa e nada de estilo? Nem com lentes de contacto o encontravas, meu amigo.

Tal como o humor, a cultura, o requinte, a filantropia, e o conhecimento de vinhos, o estilo é uma coisa que os portugueses acham que se pode encomendar em take away, ou pedir ao IKEA para levar a casa. Ou seja, é instantâneo. Está na altura de alguém explicar que isso só é possível com o sucesso. O estilo, por seu lado, precisa de escola. E a escola precisa de anos de humilhação e humildade. Ora, nós ainda não saímos da fase de humilhação.

O maior problema tem a ver com a dificuldade dos portugueses em criar uma individualidade própria. Curioso isto acontecer numa sociedade que, ao mesmo tempo, não se afirma colectivamente. Tirando as bandeiras nas varandas em dias de futebol, os portugueses não existem como comunidade. Quando precisam de criar em conjunto, são egoístas; quando têm de ser heróis, refugiam-se no colectivo. É como evitar a primeira fila de um espectáculo ao vivo por recear ser chamado a palco. Temos um medo pavoroso da exposição: como um fato de plumas ou o nariz de palhaço, ela expõe-nos ao ridículo. E o ridículo não é decerto estilo se alguém se ri de nós.

Tudo isto reflecte-se na imagem da publicidade nacional, que é um reflexo do que os portugueses na verdade são (a publicidade não cria modelos, aproveita-se do que já existe). Dois case study: as operadoras de telemóveis e os bancos. O que temos? Por um lado, a ideia egoísta de que “o banco é meu” ou “eu sou dono do meu banco”. Parecem Flaubert a dizer: “Bovary sou eu!”. Nos telemóveis, o contrário: o telemóvel não é vendido como objecto individual (determinado por vontade própria) porque as operadoras estão mais interessadas em vender as chamadas entre “a comunidade”. Exemplo: a nova campanha da Optimus, com um grupúsculo de jovens a descer um rio. Para além de ser plágio vergonhoso de excepcional anúncio da Johnnie Walker, chateia-me esta obsessão da publicidade nacional em veicular imagens de multidões obcecadas, ou massas uniformes com bandeiras, em filmes militaristas que remetem para estratégias fascistas ou uma nova epifania do Quinto Império. Mas quando nos falta estilo próprio, só nos resta caçar tendências a outra freguesia.

Miguel Somsen

In Metro

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