segunda-feira, março 26, 2007

Ainda a calçada em Lisboa


Ladrilho, calcetaria, calçada / desenho específico e típico

1. A calçada enquanto desenho típico

Escreveu Marina Almeida, no ‘DN’ de ontem: «A calçada portuguesa foi pela primeira vez aplicada na parada do quartel do Batalhão de Caçadores n.º 5 no Castelo de São Jorge, em 1842. Foram usadas, por iniciativa daquele que é assinalado como o "pai" da calçada, Eusébio Furtado, pequenas pedras brancas e pretas. O motivo - um ziguezague de grande impacto visual - saiu da cabeça deste engenheiro militar, à época governador de armas do Castelo de São Jorge».

Agradeço ao 'DN' esta bela foto.

2. Outras calçadas, calcetaria, ladrilho

Registo. Mas nada retira que no século XVII documentos que já publiquei (foto digital de um jornal de Março de 1665) refiram uma «calcetaria» na zona baixa da cidade de então – que se confinava a umas centenas de metros à volta do Terreiro do Paço (ainda não é a Praça do Comércio – nome que oficialmente lhe dará o Marquês após a reconstrução, retomando, aliás, o nome popular do local desde há séculos…). Penso que esta calcetaria se localizaria provavelmente no local onde hoje fica a Igreja de São Julião e que outros investigadores têm referido a existência de «calçada» (não de «desenho») na época do ouro do Brasil.

3. O fausto do século do ouro do Brasil

A este propósito, transcrevo só este pedaço de investigação:

“Gil Vicente (1465? - 1537?) corrobora com esta descrição: «Lisboa era uma cidade movimentada e colorida, onde a riqueza se ostentava, vendo-se o Tejo coalhado de navios de diversas nações, que vinham trazer e levar os produtos da Europa e do Oriente».
(…) «O rei quando saía do paço, fazia-se acompanhar por um cortejo asiático, cuja frente vinha a ganga, rinoceronte da África, seguido de cinco elefantes recamados de xairéis de brocado e do cavalo persa com o caçador e a onça; em seguida apareciam o rei e a corte, a cavalo, seguidos pelas bandas de atabales e clarins.»
Tanto fausto e grandeza na cidade de Lisboa merecia um piso imponente que proporcionasse ligações terrestres mais cómodas e rápidas, dado que Lisboa passou a ser o eixo comercial da Europa, destronando a velha Veneza. Tentando suprir esta lacuna, o soberano lançou determinação régia e da natureza do bem comum, um imposto que deveria ser cobrado pelo Senado de Lisboa que começou a cobrar e administrar uma renda pelos carros que carroceiam na cidade, aplicando-a exclusivamente nas calçadas que os carros desconjuntam e destroem. D. Manuel I, pela carta régia de 20 de Agosto de 1498, determinou que continuassem as obras das calçadas, pagando a cidade a mão-de-obra e dando aos proprietários de casas e a donos de carros as achegas (materiais e transportes); a nobreza e o clero não foram isentos e levantaram grande oposição a contribuir para esse serviço municipal, embora fossem os fidalgos quem mais lucravam com o arranjo das ruas. Em carta régia de 8 de Maio de 1500, D. Manuel aprova a despesa orçada para o calcetamento da Rua Nova Grande dos Mercadores, devendo empregar-se nessa obra pedra do Porto porque a outra dana-se na maneira que vedes, sendo os trabalhos da calçada pagos a cinquenta reis
(réis) por braço.
Burgueses endinheirados, clero e nobres e familiares do Santo Ofício apresentaram variadíssimas razões para não pagarem, argumentando que eram servidores do Rei ou de Deus; perdeu o ortelão d’el rei que nem por morar nos Paços da Ribeira deixou de pagar o escota.
D. Manuel discordou de tantas e hábeis desculpas e por alvará de 26 de Agosto de 1515 manda a Câmara de Lisboa proceder contra as pessoas que fugissem de contribuir para o ladrilho da Rua Nova dos Mercadores assim como outras vias afluentes ao Paço da Ribeira que trazia em construção.”

Cremilde De La Rosa Raposo Colaço Barreiros, in ‘Fozibercalcada’ (blog).

5 comentários:

Anónimo disse...

...

José Carlos Mendes disse...

...

Anónimo disse...

Li há dias umas tretas sobre a formação de calceteiros e não sei quê.

Esses tais «especialistas» não os vejo habitualmente.

Deparo sempre é com pessoal obviamente imigrante a fazer (se calhar a soldo de empreiteiros ou sub-empreiteiros) um trabalho muito imperfeito e às três pancadas.

Mas parece-me que a calçada à portuguesa é algo cujo futuro está comprometido (por obviamente quase ninguém estar disposto, hoje em dia, a ser calceteiro de profissão, o que se compreende muito bem).

Talvez fosse preferível manter uma obra «asseada» em algumas áreas mais nobres dacidade e optar-se por outra solução nas outras áreas.

Anónimo disse...

É exactamente isso que vai suceder, e aí temos que estar com muita atenção! Esteticamente, a boa e mantida calçada portuguesa é INSUBSTITUÍVEL. Não existe nenhuma que chegue nem aos seus "calcanhares" (e tecnicamente tem também grandes vantagens). Claro está que não foi concebida para automóveis, e a sua manutenção não é para qualquer nabo. O osso duro de roer, é definir as zonas onde este tipo de calçada é substituível, e escolher algo apropriado para tal. E aí vamos ter de estar com muita
atenção, pois essa gente que escolheu os novos candeeiros para Alvalade pode ainda andar à solta.

JA

Anónimo disse...

Olá, desculpe invadir o espaço. Mas é Muito necessário... Estou trocando um poema por sua ajuda, e depositando com isso um voto de esperança. Por favor, para você que mora em Lisboa, ou conhece alguém de lá entre no meu blog (http://www.intellectdeluxes.zip.net) leia meu SOS e nos ajude se souber de algo... Obrigado pela compreenção...

Poema de Esperança
Poema de esperança/
Na pupila de uma criança/
Numa íris de afetos/
Sonho certo/
Numa estrada bela/
Em alguma singela/
Magma magia/
Da poesia/
Que no raiar/
Do dia/
Nasce a esperança novamente/
Simplesmente vivamente!